sexta-feira, abril 26, 2024
Aves e Aquarismo

Aves de contato: Cuidados para se ter uma ave solta em casa

Psitacídeos costumam se adaptar muito bem fora da gaiola e se apegam de forma única com os seus tutores – Foto: RHJ/iStockphoto.com

Saiba o que é preciso para acostumar as aves a ficarem soltas e em segurança no lar

As aves são animais maravilhosos, elas encantam os nossos olhos com suas cores, plumagem, bico, o fato de botarem ovos e, características comportamentais. Segundo especialistas, esses animais são os mais próximos dos extintos dinossauros. Atualmente, podemos encontrar animais pertencentes a essa classe (aves) praticamente no mundo todo. E são vários os registros de espécies que são criadas em gaiolas, viveiros e reproduzidas com sucesso em cativeiro. Porém, esses animais são alvo, como muitos outros, de um lado obscuro do comércio de animais, que é o mercado ilegal, onde são retirados da natureza e vendidos totalmente de forma desapropriada em desrespeito com a vida. 

Biólogo Tiago Calil com calopsita: ave é uma das aves de contato mais conhecidas no Brasil – Foto: Divulgação

Outro ponto importante é de que, infelizmente, uma boa parte das pessoas que adquire pets o fazem por impulso, sem ter a consciência de que, a partir do momento que se torna um tutor, você é totalmente responsável pelo animal. Alimentação, cuidados veterinários e dedicação estão nas mãos de quem os adquiriu. Por outro lado, mesmo criando as espécies legais, seguindo o manejo até então recomendado, há a polêmica de que aves vivem engaioladas, aprisionadas, e sofrem muito por se encontrarem neste estado. Em partes, realmente, concordo com a afirmação, pois muitos tutores criam seus animais em condições lastimáveis e espaços totalmente inadequados. O assunto é polêmico, mas na minha visão, a domesticação animal existe há muito tempo, e dificilmente deixará de existir. E a regra vale para todas as espécies que hoje se encontram dentro de nossas casas: cães, gatos, roedores, peixes e aves. Acredito que o nosso papel seja dar o melhor possível para eles, sempre, melhorando as condições de vida. Mas, já que o assunto são as aves, não é soltando-as no meio ambiente e libertando do cativeiro que isso vai acontecer, pelo contrário, animais acostumados a viver desta forma tendem a morrer de fome, ou são pegos por predadores quando libertados. Como não estão acostumados a procurar alimento e se adaptar com adversidades, morrem facilmente quando livres. Além disso, a maioria desses animais não são encontrados em nosso país, portanto, não pertencem a nossa fauna, e soltá-los poderia criar um desequilíbrio ambiental. 

Aves de contato

Depois dessa longa introdução, necessária para entrarmos finalmente no assunto que é foco desse artigo: as aves de contato. Lembrando que o nosso objeto é sempre buscar a melhor qualidade de vida possível para qualquer animal mantido em cativeiro, pergunto: será que é possível uma ave viver fora de uma gaiola? Ou melhor, será que é possível uma ave desfrutar do mesmo espaço que um cão ou um gato, de forma “livre”? E a resposta é: sim. Mas, como dito anteriormente, não é simplesmente soltando-os que teremos harmonia entre o tutor e o pet, é preciso seguir alguns cuidados antes de qualquer coisa. Se o processo for feito da forma correta, sem dúvida alguma, sua ave terá muito mais qualidade de vida comparado a uma que vive em gaiola. Para entender melhor, aves de contato, são animais que terão contato direto com os seus tutores. Esses animais os enxergam como verdadeiros companheiros, já que boa parte das aves gostam de socializar, pois é assim que vivem no meio natural. Uma ave acostumada com essa forma de manejo poderá responder ao seu tutor com muito carinho, criando fortes laços entre pet/Homem. Mas é importante falar que, uma vez acostumadas do lado externo, jamais poderemos fazer o processo reverso, ou seja, fazer com que a ave viva 100% do seu dia engaiolada novamente, gerando desta forma um retrocesso.

Quais são essas aves?

O universo das aves é muito grande, e falar delas de forma generalista é difícil, pois a necessidade de cada grupo é muito específica. Há animais grandes, pequenos, predadores, exóticos, silvestres, aquáticos, etc. Neste artigo vou me referir às espécies que podem ser comercializadas legalmente e criadas dentro de uma casa. Na teoria, a maioria das espécies de pequenas aves que são comercializadas podem viver soltas, desde que acostumadas quando jovens, claro. Para isso, é necessário que o tutor siga as necessidades da espécie escolhida. Contudo, há um grupo de aves que são as mais indicadas para esse tipo de manejo: os Psitacídeos. Essa família de aves que vão desde o pequeno perequitinho até as grandes Araras, costuma se adaptar muito bem fora da gaiola; excelentes escaladores, podem facilmente subir com auxílio de uma escada ou uma corda presa à gaiola; são animais muito robustos e se apegam de forma única com os seus tutores. Algumas espécies de psitacídeos mais populares são: Periquitos Australianos, Calopsitas, Agapornis, Papagaios e Araras. Quanto aos passeriformes (Canários, Mandarim, Manon), não são muito recomendados, apesar de possível, podem se machucar facilmente fora da gaiola devido a sua fragilidade.  

Outro ponto importante é a casa, que deve estar preparada para receber esses animais soltos, com: tela na janela, poleiros distribuídos em diversos ambientes, alimento e água sempre disponível ao alcance do animal, e muito cuidado ao abrir portas e arrastar móveis, inclusive ao sentar-se no sofá. Quanto a outros pets, não é recomendado a presença de cães e gatos, que naturalmente são predadores de pequenos animais. Claro que existem algumas exceções, mas é melhor não arriscar. Aquários, tanques, pias e vasos sanitários também exigem cuidado, a fim de evitar possíveis afogamentos. 

Como acostumá-las?

Para que esses animais se acostumem fora da gaiola é preciso paciência e dedicação. Aos poucos a ave vai se adaptando com a presença do tutor e criando confiança no mesmo, fortalecendo o laço. Psitacídeos mais novos são os melhores para dar início ao manejo, pois aceitam muito mais o contato. Veja abaixo, algumas dicas importantes:

1. Apare as asas: Se o pé direito da casa for muito alto ou o tutor pretende passear com a sua ave em outros ambientes fora da casa, é recomendado que a ponta das asas seja aparada por um veterinário de silvestre, a fim de evitar possíveis fugas. 

2. Não as prenda: Coleiras, cordas e correntes jamais podem ser presas ao animal, pois o risco de acidente é muito grande. 

3. Primeiro contato: Deve acontecer em um local tranquilo. O melhor é em um cômodo fechado, somente com a presença do animal e do tutor. O animal deverá ser solto e o tutor aos poucos se aproximar do mesmo. Se possível utilize alguns petiscos que atrairão a ave, como semente de girassol ou uma fruta de fácil aceitação. 

4. Respeitando os limites: Leve as mãos em direção ao animal repetidas vezes, até que ele se acostume com o movimento. Chegará o momento que o animal subirá em suas mãos, se acostumando com o contato. É importante que o processo seja repetido todos os dias, sempre respeitando o limite do animal, até que a confiança entre tutor e ave seja estabelecida. 

5. Cuidado com as mãos: No caso das aves muito fortes, como Cacatuas, Araras, Papagaios, no início é recomendado o uso de luvas, após certo período poderão ser retiradas com segurança. 

Conclusão

Tenho certeza que com paciência e, seguindo essas dicas, o tutor terá um companheiro inseparável. Jamais compre aves que não podem ser comercializadas ou mesmo que por impulso. Lembre-se, o manejo consciente e respeito pela vida sempre serão o melhor caminho.


Agradecimento:
Tiago Calil – Biólogo responsável pelo treinamento do setor de aves na Cobasi.


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