sábado, abril 27, 2024
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CLÍNICAS ESPECIALIZADAS EM SILVESTRES E EXÓTICOS: UM MUNDO À PARTE

Esse tipo de negócio exige atendimento, capacidades e equipamentos específicos

Fotos: Studio Empreinte e cynoclub/iStock

Quando se quer montar uma clínica e pet shop voltada para atender cães e gatos, é muito fácil obter equipamento e recrutar profissionais especializados nestes pets. Porém, quando se tem a pretensão de atender um animal silvestre ou exótico na clínica, é preciso um preparo e recursos diferenciados e específicos. Assim como os felinos, por muito tempo, foram tratados como cães de pequeno porte, estes animais ditos não convencionais não podem – e não devem – receber o mesmo tratamento. Assim, conversamos com clínicas que se dedicam a estes animais para entendermos um pouco mais da rotina e do que é preciso para adaptar uma clínica a este atendimento diferenciado.

SERVIÇOS E DIFERENCIAIS

Quem lidera a clínica Bicho Solto, de Rio Claro-SP, é Gustavo Henrique Bonafé D’Ávila e sua esposa, Thais Bregadioli D’Ávila, também médica-veterinária. Formado em veterinária desde 2007 e graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas (em 2012), Gustavo é pós-graduado em Clínica Médica e Cirúrgica de animais Silvestres e exóticos e atua na área Clínica de atendimento destes animais desde 2009. “Realizo consultoria a criadores de aves, sou Responsável Técnico de Associações de pássaros, realizando exposições e campeonatos de canto e fibra, e tenho experiência em projetos de consultoria de resgates e monitoramento de fauna nativa”, lista o profissional. Além das consultas e os exames de rotina como hematológicos, bioquímicos, a clínica Bicho Solto também oferece os procedimentos cirúrgicos (castração, nódulos, odontologia para coelhos e roedores), a implantação de microchip (dispositivo do tamanho de um grão de arroz como uma forma de identificação do animal), sexagem para aves, roedores e répteis, atestados sanitários para viagens municipais e estaduais, GTA (Guia de Trânsito animal) e guias para trânsito de animais silvestres e exóticos. “Nosso diferencial acredito que seja a experiência ao longo desses 15 anos, realizando o atendimento dos animais silvestres e exóticos, principalmente relacionado à consultoria para criadores de aves, lojistas e ao público de maneira geral, sempre com o objetivo de transmitir um pouco do conhecimento adquirido a fim de aumentar e melhorar a qualidade e expectativa devida destes animais, de forma saudável e eficiente”, aponta Gustavo.
Arthur Gôngora é médico-veterinário formado pela UNIFAJ, em Jaguariúna-SP, e pós-graduando em clínica e cirurgia de pets não convencionais. Atua como médico-veterinário intensivista na clínica veterinária Selva Urbana, localizada em Campinas-SP. “Atendemos os 365 dias do ano, 24 horas por dia. Nossa clínica é especializada no cuidado com esses animais não convencionais. Nós não atendemos cachorros e gatos. Nossos pacientes, muitas das vezes, são presas na natureza e estressam com a presença de um possível predador”, aponta Arthur.

ESTRUTURA

Arthur explica que para atender tais animais, é preciso estar em um lugar adaptado com relação a possíveis fugas, aos tipos de alimentações que são diferentes também –, alguns instrumentos clínicos, que precisam ser menores etc. “Muitos dos nossos pacientes podem vir a óbito até mesmo pelo estresse de ser contido para realização de exames ou avaliação. Além disso, é tudo muito específico, cada espécie é uma medicação e dose específica mesmo. Às vezes chega um animal que achávamos que iriamos ver apenas nos livros. Tem que estudar muito, e o tempo todo!”, acrescenta.
Segundo Gustavo, na clínica de animais silvestres e exóticos, algumas estruturas, materiais e equipamentos são diferentes das comparadas ao atendimento de cães e gatos, como a U.T.A (Unidade de Tratamento Animal) utilizada para aves, roedores, coelhos e répteis, auxiliando no controle de temperatura e umidade do local e as lâmpadas de cerâmica, que contribuem para o aquecimento dos animais. “Os materiais e equipamentos, muitas vezes são específicos para cada espécie em questão, variando tamanhos e formas diferentes para cada caso. Os alojamentos devem atender as necessidades das espécies em questão, como terrários e gaiolas apropriadas para répteis e aves. Também é preciso ter um ambiente que reduza todo o estresse da espécie em questão, dando conforto, segurança e praticidade no manejo para cada espécie atendida”, explica o médico-veterinário.

EQUIPE DIFERENCIADA

Atualmente, são dois médicos-veterinários especializados no atendimento de animais silvestres e exóticos na Bicho Solto, mas há uma outra veterinária que realiza pós-graduação na área para integrar o time em 2024. “O grande objetivo da atuação do médico-veterinário de animais silvestres e exóticos, é o de orientar o público sobre os principais cuidados para com esses animais, pois muitos requerem um cuidado e manejo específico e atenção redobrada. Assuntos como, alimentação específica para cada espécie, suas principais doenças e o manejo sanitário, são a base de uma orientação durante a consulta dos animais, visto que, a sua origem genética e demais características, podem ser de outra região ou mesmo de outro país”, ilustra Gustavo.
Na Selva Urbana, além da consulta, são realizados procedimentos cirúrgicos, internação, reabilitações, hotelzinho, consultorias ambientais, serviços de educação ambiental e loja com muitos produtos para os animais. “Toda a nossa equipe é apta a atender esses animais, todos têm pós-graduação ou estão no caminho para finalizar a mesma na área específica”, aponta Arthur.

PROJETOS

Como afirma Arthur, a área de silvestres e exóticos é muito ampla. “Podemos trabalhar com manejo de fauna em grandes empreendimentos, rodovias etc. Com a parte laboratorial, na parte de educação ambiental, ensinando desde crianças até funcionários de empresas que têm contato com animais do que fazer em caso de contato com um deles, tem vários nichos que podem ser seguidos”, diz.
Na clínica Bicho Solto há um projeto denominado “Bicho solto na escola”, que desde 2009, realiza ações destinadas à interação com os animais, promovendo a aproximação e o contato com o público, onde podem tocar, sentir e até tirar fotos com os bichos. “Apresentamos aos participantes, coelhos, porquinhos da índia, hamsters, aves exóticas e alguns animais típicos de fazenda, como: mini cabrito, carneiros, pônei, mini vaca, sendo abordado assuntos relacionados a classificação dos animais, cuidados básicos, suas diferentes alimentações e suas principais características. Uma forma lúdica e divertida de conhecer mais sobre os comportamentos dos animais e a importância deles no pertencimento ambiental”, detalha Gustavo, cujo projeto tem parcerias com escolas públicas, particulares e demais Instituições.

TUTORES DE PETS NÃO CONVENCIONAIS

Gustavo aponta que há uma grande diferença na comunicação entre os tutores de pet não convencionados, se comparado ao atendimento de cães e gatos. “Muitas vezes, esses animais expressam seus comportamentos ou sinais de maneira pouco perceptíveis e de formas diferentes. Podemos dar de exemplo um tutor que possui em sua casa um cão, um jabuti e um peixe de aquário. Quando ele chega em casa o cão logo expressa seus comportamentos de felicidade, abanando o rabo, latindo, trazendo o seu brinquedo preferido e pulando em seu colo, já o jabuti e o peixe de aquário, possivelmente terão pouca ou nenhuma interação na mesma proporção que o cão. Desta forma, quando também apresentam alguma doença ou mudança de comportamento, esses sinais são mais notáveis no cão do que se comparado aos outros animais, que quando se apresentam na clínica para um atendimento, muitas vezes podem ter essas doenças em seu estado avançado e muitas vezes com o seu tratamento mais desafiador”, ilustra. Já Arthur opina: “com o tutor em si não muda muita coisa, o problema maior é com os nossos pacientes. Por serem presa na natureza, tentam esconder-se ou demonstrar sinais de que estão doentes, pois na natureza, se parecerem debilitados, podem ser vistos ou predados por outro, é a lei da vida!”

Por Samia Malas