quarta-feira, maio 1, 2024
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Alimentação Natural: uma tendência mundial.

Entenda mais sobre esse tipo de alimento e como ele deve ser oferecido aos pets

Foto: Luisella Planeta Love Peace por Pixabay

Um estudo divulgado pelo instituto Euromonitor aponta que oferecer uma alimentação natural (AN) ao pet é uma tendência mundial, e a expectativa é de que essa fatia de mercado cresça 127% em 2023. Pensando nisso e no quanto a alimentação natural pode ser benéfica para animais de estimação, muitas empresas têm investido nessa tendência. Além disso, é notável também que tutores cada vez mais vêm buscando incluir “comida de verdade” na rotina de seus pets. Isso fica claro com a explosão de cursos para médicos-veterinários voltados à Nutrição ou Nutrologia a fim de atender essa demanda. Para se ter ideia, a ferramenta Google Trends registrou em junho de 2021 o ápice de buscas pelo termo “nutricionista pet” dos últimos 5 anos. Para atender toda essa demanda, marcas novas têm surgido no mercado, como a Bezzie Pet Food, que surgiu a partir de uma expertise de mais de 50 anos da empresa produzindo alimentos para humanos.

Foto: Divulgação

“O foco da empresa é o de manter a filosofia do rótulo simples e alimento saudável: poucos e naturais ingredientes, os mesmos aplicados na alimentação humana saudável e com a suplementação e fortificação que são exigidas pelo MAPA, para termos o selo e a classificação de alimento completo para cães adultos em manutenção, assim como são as tradicionais rações secas extrusadas”, aponta José Carlos Feijóo Falcon, sócio-diretor da empresa, que trouxe uma grande novidade ao segmento de AN: produtos que não precisam de refrigeração e chegam em casa prontos para uso. Além das novas marcas, as mais tradicionais e de outros nichos, como a Organnact, que lançou a Be Nature, de alimentos naturais enlatados, e a Zeedog, que lançou a linha Zeedog Kitchen, também entraram no segmento petfood com a “pegada natural”. “A humanização dos animais contribuiu para o crescimento dessa tendência de alimentação natural para os pets. Foi criado um conceito grande de que a ração não é mais a única forma de alimentar o pet. Há até uma competição no mercado hoje sobre os dois tipos de alimentação. Porém, não há uma opção melhor, o que importa é que o pet receba um alimento balanceado. Mas há algumas vantagens na alimentação natural, pois ela é úmida, o que ajuda na hidratação do animal (favorecendo a saúde renal), é menos calórica, dá mais saciedade (concentra mais proteínas e gorduras – a ração seca concentra mais carboidratos) reduzindo o risco de obesidade, é mais palatável, além de conter fito nutrientes (vegetais e hortaliças), ricos em antioxidantes, importantes na prevenção de doenças. Não que uma ração não possa ter esses fito nutrientes, mas o processo é mais complicado”, aponta Luis Fernando de Moraes, veterinário consultor da Organnact.

RAÇÃO NATURAL

Foto: Divulgação

Há também, no segmento de alimentação natural para pets, as rações extrusadas com ingredientes naturais. Guilherme Filho, CEO da Nahrung, marca que atua nesse segmento, alerta que o conceito do que é “natural” nesse nicho de mercado precisa de um maior amadurecimento. “Muitas empresas apenas tiram o corante dos produtos e classificam como natural. Outras não utilizam antioxidante artificial na fórmula, mas compram matérias-primas que contém estes ingredientes.  A presença de transgênicos, de glúten, de aromatizantes e palatabilizantes artificiais também deixa o consumidor confuso. As empresas devem comunicar estas características de uma forma mais clara aos seus consumidores, para que eles tomem a decisão de compra com base em boas informações”, aponta. Ainda segundo ele, a escolha dos fornecedores de um fabricante pet food também é essencial. “Eles precisam estar engajados com a exigência de qualidade e de padrão da empresa produtora. Além disso, o processo precisa de cuidados ainda mais especiais, pois os produtos naturais são mais difíceis de extrusar, são mais suscetíveis à oxidação precoce e o nível de exigência dos clientes também é maior”, aponta. Também no segmento de alimento seco natural, a tibii é outra marca que surgiu recentemente, mas que conta com a colaboração de nomes de peso em sua estrutura, como Marco Antônio Santa Maria, Diretor Geral (Sócio Executivo Investidor) da tibii, que tem 33 anos de atuação no mercado de nutrição animal, destes, 22 foram dedicados exclusivamente ao mercado pet food.

Foto: Divulgação

“O mercado de produtos naturais para pets está em franca expansão em todo mundo. E navega desde a alimentação natural ‘in natura’, ou seja, preparada para consumo imediato, passando por alimentação natural preparada e congelada até alimentos naturais industrializados. Nos industrializados podemos dar ênfase às rações secas, úmidas (enlatadas ou sachês), além dos snacks”, lista Santa Maria, que diz haver dúvidas no mercado pet e entre os consumidores do que é, de fato, o conceito de alimentos naturais industrializados. “Consideram-se naturais produtos que não tenham conservantes, aromatizantes e corantes artificiais. Algumas linhas de pensamento também questionam a presença de ingredientes transgênicos, porém, o fato é que não existe ainda uma lei que regulamente de maneira definitiva o que é um alimento natural industrializado, o que por si só parece contraditório ser industrializado e natural ao mesmo tempo. Assim, será muito importante uma regulamentação clara sobre o ‘conceito natural’ para que os consumidores não fiquem reféns apenas do marketing das indústrias”, explica. E mesmo havendo ainda essa “confusão”, o mercado de alimentação natural já é bem forte no Brasil. “O mercado pet food brasileiro é extremamente competitivo, são mais de 170 fabricantes com mais de 1.500 marcas. E na categoria de alimentos com apelo natural não é diferente. O desafio é gigante pela preferência do consumidor”, revela Santa Maria, ao dizer que aposta no crescimento desse setor e acredita que ele irá se sobrepor às demais categorias de pet food. “Produtos naturais e que respeitem a cadeia de sustentabilidade, tanto na produção, quanto distribuição e embalagens serão os preferidos pelos consumidores e, ainda, trazem um desafio extra para as indústrias de escala de produção com disponibilidade de matérias-primas que garantam o conceito de natural e que ainda sejam sustentáveis do ponto de vista da cadeia circular”, comenta.

AN: UMA DIETA VIÁVEL

As dietas prontas que encontramos no mercado pet food são as cozidas, que chegam prontas para os tutores oferecerem aos pets. Esses produtos, são fabricados por empresas registradas no Ministério da Agricultura. Segundo a médica-veterinária nutróloga Sonali Rebelo, da Tendências Naturebas Pets, do Rio de Janeiro, para serem comercializados, esses alimentos devem estar dentro dos critérios de qualidade exigidos pelos órgãos fiscais. “São alimentos balanceados e, portanto, ótimas opções. As versões latinha e liofilizada acho bem bacanas, especialmente para viagens, uma vez que não exigem conservação extra”, enfatiza.
Hoje o valor de uma dieta natural, que é específica para as necessidades do pet, equivale ao de uma ração super premium. Segundo Sonali, independentemente da forma como a dieta natural será oferecida, é fundamental planejar bem o cardápio. Esse é um dos pontos mais importantes. A médica-veterinária do Eco Cão Espaço Pet, Nicole Cherobim, concorda, e aponta que para a AN ser considerada uma dieta balanceada, ela precisa ser elaborada e prescrita por nutricionistas veterinários, que consideram todas as necessidades do animal e incluem ingredientes naturais e suplemento específico que irão garantir a saúde do animal. “Antes de começar a colocar esses alimentos à disposição do animal, é essencial que ele seja submetido a uma avaliação nutricional. Depois de conhecer o histórico do pet sobre os hábitos do animal, o profissional elaborará um cardápio considerando sua idade, sexo, raça, condições de saúde, atividades físicas e as possíveis restrições alimentares”, aponta.

MISTURE RAÇÕES À NOVA ALIMENTAÇÃO

Apesar dos benefícios na saúde do pet, como a possibilidade de consumir alimentos sem conservantes, frescos e não processados, o equilíbrio é a chave para o sucesso da AN.
Nicole recomenda que, no começo, o tutor misture as frutas, legumes e outros alimentos presentes na AN na ração comum. “Muitas vezes, a AN é sugerida para o pet como alternativa para animais alérgicos à ração. Mesmo que a versão natural seja uma boa opção, ela precisa estar acompanhada da suplementação indicada pelo nutricionista ou veterinário”, enfatiza.

VANTAGENS PARA O PET

A maior aceitação da dieta natural por parte dos animais se comparada às rações comerciais, em especial para os que possuem apetite caprichoso, é um dos pontos que mais chama atenção dos tutores. Segundo a zootecnista e especializada em nutrição de cães e gatos Ana Paula Pereira, de Birigui, SP, as vantagens da AN para os pets também incluem maior digestibilidade – em relação à ração com alto conteúdo de grãos e produtos de origem vegetal – e maior facilidade de adaptação ao animal. “Indico a alimentação natural para cães em qualquer situação, desde que seja levado em conta o estado de saúde do animal. Caso ele apresente alguma doença que demande alimentação específica, o veterinário deverá fazer a prescrição para que essa demanda seja atendida por um nutricionista pet.” Já Sonali afirma que é uma tendência mundial a alimentação natural não somente para os pets, mas para nós também. Segundo ela, com o mercado aquecido pela AN, tutores estão dispostos a investir mais na nutrição do seu pet, além de estarem mais informados e exigentes. “As pessoas buscam, cada vez mais, comer alimentos menos processados. Para substituir a ração industrializada, estão optando pelo mesmo sistema de marmitas prontas para seus pets. O que, para cães e gatos, pode não só ser mais saboroso como também um upgrade em sua nutrição”, esclarece. Empresas preparadas para comercializar o alimento natural, balanceado e pronto é uma verdadeira evolução. “Não existe contraindicação para a alimentação natural, pois é uma dieta que pode ser elaborada segundo as particularidades de cada pet. Um animal saudável pode ter sua alimentação direcionada à prevenção de doenças, à melhora do vigor e da pelagem, por exemplo”, explica Sonali. Para a veterinária, a possibilidade de oferecer uma nutrição individualizada é um diferencial: “Não estamos mais falando de um alimento formulado para dar suporte a uma raça ou fase da vida, e sim, ao indivíduo com todas as suas características que o tornam único. E isso só é possível com a flexibilidade que uma dieta natural oferece”. Como exemplo, Sonali cita a necessidade que muitas pessoas têm em retirar certos alimentos da dieta para evitar problemas comuns. “Animais, independentemente de sua linhagem genética, também apresentam particularidades, e quando aprendemos a reconhecê-las, sua qualidade de vida claramente melhora”, finaliza a médica-veterinária.

Agradecemos a participação de Ana Paula Pereira, Zootecnista, pós-graduada em Nutrição de Cães e Gatos pela Universidade Federal de Lavras-MG. www.alimentacaodecaesegatos.blogspot.com; Nicole Cheromim, Médica-veterinária do Eco Cão Espaço Pet e CEO da Eco Angels Educação Sustentável; Luis Fernando de Moraes, Especializado em Medicina Biomolecular e Radicais Livres AMBC e em Nutrição, Mestrando em Nutrição (FUNIBER) e Consultor da Organnact; Sonali Rebelo Especializada em nutrição clínica, funcional e preventiva de cães e gatos. Membro do American Academy of Veterinary Nutrion www.tendenciasnaturebaspets.com.br


Por Samia Malas e  Barbara Freire