sexta-feira, abril 26, 2024
Administração

A inércia é inimiga da inovação

Posso dizer que vivi uma vida de nômade. Filho de diplomatas, viajei o mundo, experimentei culturas, emprestei olhares. Mas foi aos 22 anos que ouvi um chamado especial para reencontrar e, verdadeiramente, descobrir o Brasil, como pessoa e como empreendedor.

Algumas experiências profissionais na Europa e nos Estados Unidos já me haviam feito entender que estruturas hierárquicas de comando não eram a minha praia. Eu precisava afinar meu propósito.
 

Chegando aqui, encontrei um terreno extremamente fértil para ideias bem concebidas e intencionadas. Por outro lado, havia certo despreparo em tópicos como inovação, profissionalismo, ética e transparência. Enxerguei, então, a minha grande oportunidade de empreender: participar dessa transição, ajudando empresas a amadurecer e se engajar. Foi quando fundei, em parceria com meu amigo Igor Botelho, a Mandalah.
 

Em todos os anos de empresa, pude aprofundar minhas impressões sobre o que significa empreender no Brasil. Ficou mais fácil também entender quais são os maiores entraves para o crescimento do empreendedorismo no país. Vale a pena destacar esses pontos, seja para quem está começando, ou para quem está aberto a repensar o seu lugar. Quando o assunto é fazer negócios no Brasil, os maiores obstáculos, a meu ver, são: 

 

•Mentalidades obsoletas: 

O discurso de que é preciso rever o passado está em voga, é fato. Mas a realidade é que ainda existe muita gente regida por modelos ultrapassados e que se incomoda com a mudança. É preciso lembrar que a inércia é inimiga da inovação.



iStock/ monkeybusinessimages
 

•Descompromisso: 

Atitudes não tomadas, verbas não liberadas, falta de liderança. Essas situações têm como resultado relações menos sólidas, menor prazer no trabalho e, em alguns casos, posturas abusivas.
 

•Métricas antiquadas: 

Já faz tempo que precisamos afrouxar o nó de algumas certezas. Uma delas é a ideia de que o dinheiro é a única métrica do sucesso. Ter o caixa saudável é, sem dúvida, imprescindível, mas acredito ser necessária a incorporação de outras medidas, como a promoção do bem-estar, o impacto na vida das pessoas e a quebra de paradigmas. A mídia também deve contribuir, reconhecendo os negócios por aquilo que fazem, e não por aquilo que ganham.


iStock/ jacoblund

 

•Falta de qualificação: 

Não vejo tantos game changers, pessoas que queiram viver um legado, mudar o mundo. É preciso que o Brasil forme mais profissionais que tragam formações complementares, até inusitadas, e que apliquem isso na prática. Da parte das empresas, deve vir o outro lado da moeda: valorizar esse modelo e estimular a multidisciplinaridade e a versatilidade. 

 

 

Podemos classificar alguns dos pontos acima como o “lado escuro da força”. São heranças históricas, das quais precisamos nos livrar para que o país alcance todo seu potencial. É necessário substituir as práticas antigas pela ênfase no propósito, na criatividade, na intuição, no sentimento, na capacidade individual de mudança e no fazer em vez de falar. O “lado claro da força”, chamemos assim, depende apenas de nós.