sexta-feira, maio 3, 2024
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Entrevista: “Você precisa mudar na mesma velocidade que o seu consumidor muda os hábitos”, diz Marcio Walsman

Fundador da Petlove conversa com a revista Pet Center sobre trajetória do maior e-commerce do Brasil

Foto: Divulgação

O faturamento do e-commerce pet no Brasil registrou um salto de 130% durante a pandemia da Covid-19: o aumento foi de R$ 1,44 bilhão para R$ 3,3 bilhões entre janeiro de 2020 e março de 2022. É o que aponta levantamento do Instituto Pet Brasil (IPB). E tem mais. Dentre todos os segmentos que atuam no comércio eletrônico, o chamado e-commerce especializado (que são as empresas que vendem os seus produtos apenas pela internet) foi o que liderou as vendas no primeiro trimestre de 2022, com uma participação de 40,9% sobre o faturamento total do e-commerce, movimentando R$ 1,3 bilhão dos R$ 3,3 bilhões nesse período. Surfando nessa onda positiva pós-pandemia, dentre os diversos e-commerces que temos no setor pet, está a Petlove, maior site de venda de produtos pet e vet do Brasil. A seguir,veja um pouco a trajetória de seu fundador, Marcio Waldman, e de como a Petlove tem caminhado nesses mais de 10 anos desde a sua fundação. Até porque, mesmo estando em alta, o e-commerce ainda representa uma fatia pequena do mercado, 5,6% do faturamento total do mercado pet segundo levantamento do IPB, demonstrando que ainda tem muito a crescer!

Revista Pet Center: Conta pra gente um pouco sobre o início da Petlove. Você atuava como veterinário, tinha clínica e decidiu partir para o online segmentado no ramo pet. Como se deu essa transição?

Marcio Waldman: Eu tinha uma clínica veterinária no bairro do Bom Retiro, atuava em diversas frentes no atendimento incluindo cardiologia, e possuía um pet shop, banho e tosa e hospedagem. Na década de 1990, os clientes reclamavam que demoravam muito tempo no trânsito e reclamavam da dificuldade em estacionar perto da clínica e falavam que provavelmente iriam trocar de médico veterinário. Eu, já antevendo a piora no trânsito, tinha consciência de que essas dificuldades iriam piorar e me conscientizei que tinha que encontrar alguma forma de atender os clientes à distância, o máximo possível. Com o início da internet comercial no Brasil no final da década de 1990, eu abri o primeiro e-commerce de produtos pets no Brasil, em 1999, que se chamava PetSuperMarket e em 2012 rebatizamos para Petlove.

Foto: Rafael Renzo

RPC: Nas suas entrevistas você diz que sempre foi aficionado por tecnologia. O que te interessava na época na área tecnológica e o que te motivou a investir no setor numa época em que a internet ainda engatinhava no Brasil?

Marcio: Sim, sempre fui apaixonado por tecnologia, principalmente a forma que a tecnologia pode ajudar a melhorar a eficiência e a performance profissional. Antes mesmo de pensar em desenvolver o e-commerce, eu já tinha desenvolvido um sistema de prescrição e de emissão de exames laboratoriais para a minha clínica. Na década de 1990, eu vi nos EUA o início da internet e tinha certeza de que por meio dela iria atender os clientes à distância. Aguardei a abertura da internet no Brasil, que ocorreu alguns anos depois, e iniciei a construção do primeiro e-commerce de produtos pet do Brasil.

RPC: Esse ano a Petlove completa 23 anos de existência, certo? Quais as maiores difiuldades que teve para implantar o e-commerce nos idos dos anos 2000, quando comprar online era algo impensável para a maioria da população? Já pensou em desistirem algum momento?

Marcio: No início do e-commerce, as dificuldades foram várias…. por exemplo, pagamentos por cartão de crédito naquela época não contava com qualquer segurança; por outro lado o pagamento por boleto demorava até 5 dias para processar. Em termos de logística, nem as transportadoras e nem os correios tinham expertise em transportar rações e produtos para pets. Pensei várias vezes em desistir já que foram vários os momentos de dificuldades.

RPC: Quando percebeu que era hora de fechar a clínica e ficar somente com o e-commerce? Foi uma decisão difícil? Quando foi que essa decisão ocorreu?

Marcio: Em 2005, eu estava passando por uma dificuldade com a clínica. Estávamos com muitas dívidas junto aos fornecedores e cada dia que passava o movimento na clínica diminuía; então, decidi fechar a clínica e ficar só com o e-commerce. Foi uma decisão difícil, logicamente, pelo apego que eu tinha pela clínica veterinária, porém foi uma decisão lógica: fechar algo que trazia muita despesa e manter algo (e-commerce) que poderia ter um grande potencial de crescimento.

Foto: Thais Mazzoco/Santo Chico Fotografia Pet

RPC: Como muitos pet shops do Brasil, você viu sua clínica ameaçada pela chegada das megalojas no setor pet. Conta um pouco sobre como transformou seu concorrente em aliado? E como, quando e por que essa parceria se encerrou?

Marcio: Em 2002, uma megaloja abriu perto da minha clínica e causou uma diminuição muito grande da frequência da freguesia. Em 2005, decidi fechar o espaço. Em 2008, ativamente, procurei essa megaloja e ofereci uma parceria, na qual eu venderia os produtos da loja deles e eles dividiriam a margem do produto comigo, algo que foi aceito de imediato, e eu parei de comprar de distribuidores e essa megaloja se tornou meu único fornecedor até 2011. Em 2011, após o recebimento do primeiro investimento no varejo pet feito por fundos de investimentos internacionais (TigerGlobal, Kaszek e Monashees), decidi parar com essa parceria.

RPC: A nova marca Petlove foi lançada em 2012, mais de 10 anos após o início da sua jornada no e-commerce. Desde então, com o novo nome, o crescimento foi muito maior? Como avalia esses 10 anos de empresa? Qual a estrutura/faturamento da Petlove hoje?

Marcio: Em 2012, logo após o primeiro investimento de fundos internacionais recebido pela empresa, alteramos o domínio do site para www.petlove.com.br. De 2011 até 2022 crescemos quase 300 vezes o faturamento. Esses últimos 12 anos foram de crescimento acelerado, com foco na construção de time de alta performance, construção da plataforma tecnológica do ecossistema, construção de infraestrutura logística para entrega dos produtos, abertura da primeira loja física da marca em Moema, bairro de São Paulo-SP, abertura do primeiro quios que no Morumbi Shopping, também na capital paulista, entre outras frentes.

RPC: Quantas empresas fazem parte da Petlove? E por que escolheu comprar cada uma delas? Qual o seu objetivo com tantas aquisições?

Marcio: Hoje pertencem ao grupo Petlove: a própria Petlove com 15 mil produtos à venda e com entrega em todo o Brasil; a Vet Smart, a maior plataforma tecnológica de educação continuada do médico-veterinário e ajuda estes profissionais em suas atividades; a Vetus, um dos maiores sistemas de gestão para o mercado pet e vet (petshops, Ongs, hospitais, clinicas, veterinários); a Doghero, uma das maiores plataformas de hospedagem pet; a Porto.Pet, o maior plano de saúde para pets do Brasil; e a Nofaro, o segundo maior player de plano de saúde para pet do Brasil. Fizemos todas essas operações de M&A para construir um sonho meu antigo, que era trazer para a tecnologia produtos e serviços que ajudariam tutores e médicos-veterinários, construindo um ecossistema robusto onde todos os participantes desse ecossistema teriam sinergia. Todas essas aquisições e fusões nos auxiliam em nosso novo propósito de negócio, que é transformar o mundo em um lugar onde todos os pets sejam mais felizes e saudáveis. A Vet Smart e a Vetus foram adquiridas para criar um braço profissional de ajuda ao mercado pet e vet; a Doghero para ser o braço de serviços do ecossistema e a Porto.Pet e a Nofaro para democratizar o acesso a medicina veterinária profissionalizando o plano de saúde no Brasil.

RPC: Quais os planos da empresa para os próximos anos? Continuar investindo em novas empresas do setor pet?

Marcio: Estamos sempre abertos a novas oportunidades de sinergia em nosso ecossistema.

RPC: Desde quando deixou o cargo de CEO da empresa que fundou e por que se deu essa decisão? Qual é o seu papel e cargo na empresa hoje?

Marcio: Em junho de 2021, decidi que seria a hora de oxigenar a minha cadeira e posição e convidei a Talita Lacerda, que já me acompanhava nos últimos 3 anos no dia a dia, para assumir a cadeira de CEO. Achei que era o momento de eu ajudar o ecossistema de outra forma e a Talita tocar o dia a dia com os times do grupo Petlove. Ainda participo de várias comissões dentro do grupo Petlove, auxiliando nas questões estratégicas. Atuo bastante em fusão e aquisição como membro do conselho e participante do bloco de controle do grupo Petlove.

RPC: Qual a sua dica para se manter atualizado e sempre atento ao mercado pet e o de tecnologia?

Marcio: Importante é ouvir o seu consumidor, ouvir o seu mercado; os negócios evoluem, mudam e você precisa mudar na mesma velocidade em que o seu consumidor muda os hábitos dele.

RPC: Tem algum lançamento ou projeto recente que gostaria de compartilhar?

Marcio: Lançamos recentemente o plano de saúde pet corporativo. A maioria das empresas oferece para seus colaboradores plano de saúde para eles e seus dependentes, agora eles podem oferecer também plano de saúde para os pets dos seus colaboradores. A Petlove também lançou em junho de 2022, quando completou 23 anos, seu novo posicionamento, com o novo propósito de negócio: “transformar o mundo em um lugar onde todos os pets sejam mais felizes e saudáveis”. O projeto de reposicionamento inclui ainda um manifesto da marca, que deixa claro o seu compromisso com os pets e seus tutores, de modo a garantir que eles “possam sentir, viver e compartilhar esse amor que é tão único – de muitos tipos de pet e infinitas formas de love”. A companhia reúne também, neste projeto, em uma única marca, de forma integrada, as empresas do grupo voltadas para o consumidor final. Com isso, as nomenclaturas Porto.Pet e Nofaro, empresas adquiridas por meio de fusões e negociações nos últimos dois anos, deixarão de ser utilizadas e serão englobadas à marca Petlove. O movimento será gradual, ao longo dos próximos três meses. Neste primeiro momento, a DogHero segue como marca, mas terá uma mudança visual para se aproximar ainda mais esteticamente da holding. Os serviços B2B voltados a pet shops, médicos-veterinários, hospitais e clínicas veterinárias, Vetus e Vet Smart, mantêm as nomenclaturas atuais.

RPC: Que recado gostaria de deixar aos lojistas que leem nossa revista e que, como você, têm, no seu dia a dia, que lidar com a concorrência acirrada desse mercado pet.

Marcio: Eu tenho uma visão clara sobre isso: o mercado pet brasileiro é muito grande e pouco explorado ainda, com grande parte dos pets ainda não se alimentando de ração comercial, nem recebendo produtos anti-pulgas ou vermífugos e sem visitas a clínicas ou pet shops…. ou seja, tem muita demanda reprimida no nosso mercado. Então acho que o mercado pet e vet vai crescer mais ainda nos próximos anos. Também não gosto de falar em concorrência acirrada e sim em oportunidade de sinergia entre empresas. Nós, da Petlove, temos várias formas de parcerias com o mercado pet e vet (por exemplo, temos mais de 15 mil parceiros que possuem e-commerce usando a nossa plataforma tecnológica; mais de 1.000 parceiros usando o nosso sistema de gestão Vetus e gerando serviços e vendas para ambos os lados; e temos mais de 1.300 estabelecimentos (entre clínicas, hospitais e laboratórios) credenciados aos nossos planos de saúde. Existe bastante oportunidade para lojistas, donos de clínicas ou hospitais para fazerem parceria com a Petlove. Não acredito em concorrência, acredito em construção de sinergias.

RPC: Para encerrar, conta um pouco sobre os seus pets, quantos tem hoje? Quais seus nomes, espécies e raças (se tiver raça)? Como definiria sua rotina com eles?

Marcio: Um pouco antes da pandemia nós perdemos nossa gatinha Milu com 20 anos de idade, que sofria de doença renal desde os 10 anos de vida. Quase que imediatamente após o óbito da Milu trouxemos para casa a Millie, uma cachorrinha da raça Whippet que é nossa paixão. Millie está sempre alegre, distribuindo felicidade pela casa, e interajo bastante com ela e, claro, a noite ela dorme na minha cama.


Por Samia Malas