terça-feira, abril 30, 2024
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Pets e donos mais Próximos do que nunca

Foto: YakobchukOlena/iStockphoto.com

Quais são as consequências do estreitamento da relação entre pet e tutor para o mercado pet?

A lista de pesquisas que atestam os benefícios que os animais trazem à saúde humana é extensa. E os brasileiros, como grandes pet lovers, se beneficiam dessa relação nos mais diferentes âmbitos. Com o isolamento social vivido em função da pandemia, não podia ser diferente. A assistente social de Campinas-SP, Débora Batista de Moraes, tutora de dois cães – a Cherie, de 7 anos, e Nina, de 3 anos -, conta que a quarentena deixou todos ansiosos, até os pets, mas que a companhia deles é primordial para amenizar os dias ruins. “Tem dias que a quarentena mexe comigo. Vejo as notícias e fico insegura. Nina percebe e fica em cima de mim, me dando beijos, pegando brinquedos e me obrigando a brincar. A Cherie fica ciumenta, elas rolam no chão e fico rindo um bom tempo. Converso com elas, tomamos sol, assistimos televisão, brigamos. Sem elas estaria insuportável”, desabafa a tutora. “Pets podem trazer conforto e apoio emocional ao dono e diminuir os níveis de estresse e ansiedade, pois são seres extremamente companheiros e amorosos”, atesta Rosana Cibok, psicóloga com pós-graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental. “Uma pesquisa realizada pelo site ESA –  Registration Of America – aponta que quando uma pessoa toca em um animal, pode se acalmar, reduzindo a frequência cardíaca, pressão arterial e diminuição do estresse, eliminando desta forma, os sintomas de ansiedade ou pânico”, completa a psicóloga.

A Prof. Dra. Ceres Berger Faraco, Diretora Científica – Instituto de Saúde e Psicologia Animal (INSPA), também reforça os benefícios dessa convivência com o pet no momento em que vivemos. “O pet é considerado o amigo fiel, uma fonte incondicional de amor e uma oportunidade de expressão de afeto. Portanto, podemos compreender bem a importância deste vínculo no isolamento social”, atesta. Por esse motivo que em muitos países, como os Estados Unidos, o número de animais adotados cresceu exponencialmente durante a pandemia. Como ainda não há evidências científicas de que os pets contribuem para a disseminação da COVID-19, as famílias se sentem seguras em adotar animais com o objetivo de dar suporte emocional e mental nessa fase de isolamento social. No Brasil não está sendo diferente. A protetora independente Amanda Valverde, de São Paulo-SP, conta que a procura por adoções cresceu bastante nos últimos meses. “Por sorte, tive procura de pessoas conscientes, adotando nesse período por verem a possibilidade de estar junto com o pet por mais tempo no momento de adaptação do animal ao novo lar, que é muito importante”, diz Amanda. Nesse momento de maior adoções, é verificado aumento de consumo no segmento pet, principalmente o de pet food, e tal demanda ajudará a indústria e varejo a passarem por essa tempestade causada pela COVID-19.                                                                                                                                               Para o mercado pet, diz Ceres, todo esse cenário, de certa forma, é uma oportunidade de manutenção e expansão das atividades pós-pandemia. “O valor dado ao animal como membro da família já existia e, no futuro, será mais intenso ainda”, afirma.

Contudo, a profissional lembra que existe o outro lado da moeda, já que os efeitos do excesso de mimos, em alta durante a quarentena, podem ser bastante prejudiciais ao pet, gerando ansiedade, medo e redução da capacidade de lidar com as mudanças que irão ocorrer no fim do confinamento. Assim, da mesma forma que esse aumento de vínculo pode ser benéfico ao mercado, ele também pode causar um boom nos casos de ansiedade da separação e outros distúrbios emocionais no animal – e até nos tutores, que podem ter dificuldade em voltar à rotina habitual. “A longo prazo, a Antropomorfização, que parece ser benéfica inicialmente para o mercado, pode ser uma ameaça. Há uma possibilidade de deslocamento de investimentos para produtos humanos, por exemplo, no segmento de alimentação. A redescoberta de uma vida mais intimista também pode levar a padrões de comportamento menos consumistas”, avalia Ceres. Desse modo, a profissional ressalta a importância de o varejista, e a indústria pet no geral, contribuirem para que as diferenças existentes entre espécies sejam resgatadas e mostrar o quanto elas são importantes para a qualidade de vida do pet.

Outro ponto que os tempos de quarentena trouxeram ao mercado pet, é um tutor com maior capacidade de se colocar no lugar do animal. “Ficando confinado, o dono do pet percebe o quanto é importante oferecer ao animal um ambiente enriquecido e não deixar que ele caia no tédio. O próprio dono tem vivido os efeitos da baixa atividade física e entretenimento limitado”, aponta Dalton Ishikawa, diretor da Pet Games. Desse modo, o varejista e outros players do segmento pet podem aproveitar o momento para ressaltar a importância de garantir o bem-estar animal através de uma rotina que contenha enriquecimento ambiental nos momentos de solidão e atividades diárias regulares para a manutenção do peso e da saúde mental.

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Agradecimentos:

Ceres Berger Faraco
Diretora Científica – Instituto de Saúde e Psicologia Animal (INSPA).
Presidente da Asociación Veterinaria Latinoamericana de Zoopsiquiatria – AVLZ
www.psicologiaanimal.com.br

Dalton Ishikawa
Médico-veterinário comportamentalista e diretor da empresa Pet Games, que desenvolve brinquedos funcionais para cães e gatos.

Rosana Cibok
Comunicadora Social com Pós-Graduação e MBA em Gestão pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing);
Psicóloga com Pós-graduação em TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental;

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