sexta-feira, abril 19, 2024
Mercado Pet

De olho no mercado sulista

Mantendo um crescimento sólido nos últimos anos, o setor pet tem conseguido resistir à crise. Até então, o máximo que o mercado sofreu foi uma queda em seu desenvolvimento, não chegando a entrar em recessão como outros segmentos econômicos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), com base nas informações coletadas de janeiro a setembro de 2016, a projeção é que o mercado pet nacional tenha um crescimento de 5,7% em relação a 2015 – de acordo com a associação, a taxa esperada é a menor registrada pelo setor nos últimos 6 anos.

No sul do Brasil, o setor tem se desenvolvido e atraído cada vez mais o interesse dos empresários. A Feipet, importante feira do segmento que acontece na região, é um ótimo parâmetro para entender o mercado local. Organizado desde 2012, o evento tem crescido todos anos, sendo que a edição 2017 ocupará um espaço 40% maior do que no ano anterior, além de ter ocorrido aumento em 30% no número de novas marcas participantes. 

Para atender essa demanda, empresários da região têm se movimentado, buscando fechar parcerias com empreendedores locais, fortalecendo assim o mercado. Veja como alguns avaliam a atual situação do setor no sul do país.  
 
PARTICULARIDADES DA REGIÃO
 
De acordo com Guilherme Camerini, comprador da divisão pet da distribuidora Cassul, de Erechim-RS, o mercado na região sul é muito peculiar, os consumidores têm gostos e exigências muito específicos, diferente do sudeste ou nordeste. “Os regionalismos e as preferências são evidentes, seja por modelos específicos de produtos, ou por cores que lembrem o time de futebol da região, por exemplo”, avalia.
Para ele, o maior desafio na região sul ainda é a logística de venda e compra de produtos para os demais estados, sendo que, muitas vezes, torna-se inviável a comercialização de mercadorias de outras regiões. É importante, portanto, investir no mercado local. “Sempre ‘brincamos’ que se uma empresa se solidifica na região sul, ela estará apta para atuar em território nacional. Digo isso porque a exigência do consumidor sulista pela qualidade no serviço, aliada à logística às vezes complicada e a rígida fiscalização exercida nas empresas faz com que qualquer organização se enquadre em altos padrões de gestão”, analisa Guilherme, ressaltando que os atacados da região sul são exemplos para todo o país. 
Estreitar parcerias com empresas e fornecedores regionais é fundamental para o crescimento das vendas. “Buscamos sempre dar oportunidade e ampliar o relacionamento com empresas locais. O reflexo sempre é positivo nas vendas, pois a negociação se torna mais fácil, o custo logístico da operação se reduz a quase zero, além de incentivar o emprego e desenvolvimento na região.”
 
ATENÇÃO ÀS EMPRESAS LOCAIS
 
A exigência dos consumidores sulistas também é destacada por Elizete Zilli, sócia-proprietária, ao lado de Vitor Zilli, da Pupets, distribuidora localizada em Caixas do Sul-RS. “O mercado do sul é muito exigente, tanto em qualidade de produtos, quanto em atendimento. Isso faz com que os profissionais estejam sempre em busca de novidades e se aperfeiçoando para diferenciar o atendimento”, diz.
Vencer as cargas tributárias, a falta de mão de obra qualificada e a informalidade estão entre os principais desafios a serem enfrentados. “Outro desafio constante para as empresas da região é tentar reduzir ao máximo os custos e o tempo de entrega, consequentes da distância dos polos de fabricação e importação que estão na região sudeste do Brasil.”
Elizete salienta que é de extrema importância investir em fornecedores que estejam próximos à empresa, pois, além de ter uma logística mais rápida, os custos e os impostos menores podem dar uma boa vantagem competitiva em relação às empresas de outros estados, que tentam comercializar seus produtos na região.
“O sul é uma região que ainda valoriza muito os produtos e fornecedores locais. Desenvolver parcerias com essas empresas é de fundamental importância, tanto para girar a economia local, quanto para reduzir custos e também para agilizar a logística, podendo assim o produto chegar com mais agilidade ao cliente e com um preço vantajoso.”

MERCADO COMPETITIVO
 
Alexandro Gregis Mittmann, diretor comercial da Forpets Distribuidora, de Novo Hamburgo-RS, atenta que o mercado pet está se profissionalizando. Com o surgimento crescente de novas empresas, aumenta também a concorrência que, em tempos de crise, é o principal desafio a ser superado, segundo ele. “Isso porque reflete diretamente na metodologia de trabalho. Não há margens para erros na condução do negócio, as margens estão cada vez mais justas”, avalia. Para ele, portanto, torna-se imprescindível agregar valor às mercadorias com visitas frequentes, impedir qualquer problema de ruptura nas lojas, sendo ágil na entrega e ofertando produtos a preços competitivos. 
Alexandre acredita que para a longevidade do negócio e crescimento das vendas é importante estreitar parcerias com as empresas locais e ser flexível nas negociações e nos prazos de pagamento. E é assim, investindo na região, que a Forpets tem colhido ótimos resultados. “No ano passado, ampliamos a nossa planta em 50%, hoje temos uma estrutura com 1200 m² de área construída. Além de distribuir mais de 6 mil itens, a Forpets também produz aquecedores e termostatos de alta qualidade. Temos como objetivo para 2017 ampliar a nossa atuação e entrar na região sudeste”, diz o diretor otimista.
 
PLANEJAMENTO É ESSENCIAL
 
José Domingos Goulart, proprietário da distribuidora Murano, de Indaial-SC, é enfático: o mercado pet na região sul tem uma série de particularidades. “Trata-se de um mercado com um potencial de compra excelente, porém com um público muito exigente e cético, que não acredita muito em promessas, mas valoriza um trabalho contínuo e eficaz”, avalia.  

De acordo com ele, seu grande diferencial está na tradição cultural, trazida no sangue europeu, proporcionando uma abertura significativa para produtos que tragam inovação com qualidade. “Ao mesmo tempo, contudo, isso gera grande responsabilidade aos fabricantes e distribuidores, pois associar uma marca à falta de qualidade é como carimbá-la como perigosa. Já vi esse tipo de situação ceifar varias empresas que aqui se aventuraram”, diz. Nesses 20 anos de mercado, o empresário relata que já viu inúmeras empresas migrarem dos mais diversos pontos do país, imaginando encontrar no sul um eldorado de bons negócios, e voltarem com um semblante desiludido e uma conta amarga no bolso.
Investir no sul, contudo, é sempre um bom negócio para as empresas, cabe apenas tomar a decisão correta de como fazer o investimento, de acordo com José. “Falando especificamente sobre distribuição, um mercado extremamente competitivo, uma situação de compra a qual se reduz o custo de frete pode fazer diferença significativa no fechamento da venda. Pacotes de compras menores, não utilizando espaço físico do seu depósito, podem fazer grande diferença”, afirma José, ressaltando que posicionar bem um produto no sul gera quase que um selo de confiabilidade para o resto do país. 
 
FORTALECIMENTO DA ECONOMIA LOCAL
 
A ascensão da área pet na região sul acompanha os bons resultados do restante do país, porém, ainda existem desafios a serem superados. Aliado à crise econômica, o comércio informal representa um problema. “Ainda vivemos num contexto de muita informalidade, com uma concorrência desleal de empresas que não pagam impostos. Além disso, temos também uma carga tributária extremamente elevada e menos competitiva em comparação a outros estados”, lamenta o diretor geral da gaúcha Biosul Distribuidora AgroPet, Edison Ben-Hur Garcia. Contudo, o empresário afirma que, para obter sucesso, o empreendimento deve encarar o cenário de maneira positiva. “As adversidades fazem com que estejamos sempre nos reinventando para superar as expectativas do mercado”, destaca. 
Segundo Edison, no Rio Grande do Sul o consumidor é exigente, preza pela qualidade e é reconhecido nacionalmente como alguém que valoriza os produtos e fornecedores regionais. “Consideramos o mercado daqui estratégico. O consumidor gaúcho, que hoje é o nosso maior público-alvo, valoriza marcas locais e isso alavanca as vendas, além de ser bom para o estado e para a economia. Quando um produto é aprovado pelo gaúcho, sabemos que tem grande potencial para ser sucesso no Brasil”, destaca. Para ele, fortalecer a economia local representa vantagem para todos. “Nossos primeiros esforços sempre são e serão para buscar parceiros locais, desde que estejam alinhados aos nossos valores éticos. Entendo que fortalecendo a economia local todos saem ganhando”, conclui. Além de distribuidora e importadora, a Biosul possui produtos com marca própria, BioStar.

ESTREITAR PARCERIAS
 
Embora o mercado regional também sinta os reflexos da desaceleração da economia, continua resistente, crescendo gradativamente, segundo Sérgio Antonio Bohn, diretor da MS Pet. Ele espera alavancar as vendas do empreendimento este ano, ainda que a carga tributária seja um dos maiores entraves para o setor em todo o país. “Nosso maior desafio é atender com agilidade, investindo em qualidade no atendimento. Mesmo com a concorrência muitas vezes desleal,  mantemos nosso padrão”, afirma.
Para ele, a região, que possui o segundo maior poder aquisitivo do Brasil, tem muito potencial. Assim, trabalhar com parcerias de mercado, com empreendimentos próximos um do outro, é fundamental. “É uma questão de custo-benefício, afinal, haverá pouca diferença de alíquota e o custo do transporte será menor. A expansão em âmbito nacional será consequência de um trabalho bem realizado”, finaliza Sérgio.