quarta-feira, abril 24, 2024
Banho e Tosa

Pet Care: um mercado jovem e em ascensão

Foto: Eva Blanco/iStockphoto.com

Veja um panorama geral do setor e perspectivas para os próximos 5 anos

O segmento pet care, que engloba todos os produtos voltados para a higiene e beleza do pet (ou seja, equipamentos, utilidades e produtos de higiene e beleza) é um dos que mais cresce no setor pet e se beneficia com muitos lançamentos e novidades vindas da indústria, principalmente no que toca a sustentabilidade e a inovação tecnologica. 

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), em 2019, o mercado pet faturou R$ 22,3 bilhões, e, deste montante, 8,3% foi abocanhado pelo setor pet care. O segmento teve crescimento de 8,5% em 2019 e, na pandemia, essa indústria experimentou aumento na venda de produtos direto para o consumidor final, por conta da redução do fluxo no banho e tosa e o fato dos tutores estarem mais em casa, mas ainda assim, manteve foco nos groomers. Segundo a pesquisa Radar Pet de 2020, encomendada pela Comissão de Animais de Companhia (Comac) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), os tutores de cães gastam, em média, R$ 85,60 com serviços de banho e tosa, e os gateiros, uma média de R$ 61,10.  “Com tratamento cada vez mais humanizado, pets recebem alimentação saudável, consultas veterinárias e cuidados com a higiene regulares, momentos de lazer especiais e muita dedicação afetiva de seus donos”, aponta Roberta Terra, Gerente Nacional de Trade Marketing e Merchandising da Granado. “Com base nas nossas últimas pesquisas, a cada 100 famílias no Brasil, 44 criam algum tipo de pet. Além disso, 94% dos entrevistados, consideram seus pets como um membro da família (Fonte IBGE)”, afirma Patrick Domingues, gerente de marketing da MB Pet, de São Paulo-SP, que nas vendas on-line, atende todo o Brasil. Ainda segundo Patrick, o segmento só tende a crescer, mesmo com a pandemia. “O segmento de higiene para pets é sensacional, cada vez mais as pessoas estão se preocupando com seus animais. A pandemia deu uma atrasada em alguns de nossos campos de vendas, mas o digital, por exemplo, dobrou o faturamento!”, revela.  

“A evolução desse mercado se deu de forma espetacular, com empresas que viram nesse mercado um grande espaço de negócios e foram o incrementando”
diz José Antônio Di Bonifácio, da Pirâmide Azul Logística e Distribuição e Pethy Group

Segundo José Antônio Di Bonifácio, CEO da Pirâmide Azul Logística e Distribuição e superintendente do Pethy Group (que atua em todo o Brasil com os produtos Pethy Prime, Sanithy Prime, Zooprime e Petherapy), de Ribeirão Preto-SP, o segmento pet care começou a ganhar destaque nas décadas de 1980 e 1990, quando o pet começou a ser visto como membro da família. “A evolução desse mercado se deu de forma espetacular, com empresas que viram nesse mercado um grande espaço de negócios e foram o incrementando, trazendo de fora do país produtos e conhecimentos no ramo, assim como equipamentos e técnicas, originando, inclusive, os magníficos groomers. Apesar de jovem, nosso mercado vive um crescimento de 2 dígitos ainda, que supera muito a inflação e o próprio crescimento do mercado pet no geral”, opina José. 

Regiões de destaque

Segundo os entrevistados, as regiões Sul e Sudeste – principalmente São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, concentram a maior força desse mercado. “Esse share tem relação com o poder socioeconômico, número de pets por estado e a verticalização das moradias nessas regiões. O maior mercado, estando no Sul e Sudeste (70%), a atuação das empresas nessas regiões é muito mais concorrida, avançada e requer produtos de melhor qualidade e melhores parceiros, enquanto que nas demais regiões brasileiras temos um mercado mais aberto e que pode receber mais investimentos, e um retorno líquido certo”, opina José. 

“A Granado tem o grande diferencial de ter produtos de qualidade e tradição no portfólio para humanos. Nosso objetivo é chegar ao mesmo nível de reconhecimento no segmento pet”

revela Roberta Terra, da Granado

“Nosso mercado está em ótima fase, mesmo com a pandemia o setor cresceu 16% em 2020. A região Sudeste é a mais forte nesse segmento”, aponta Carla Elbert, responsável pelo setor de desenvolvimento e produção da Johnny Cão, empresa de higiene e beleza que atua em todas as regiões do Brasil, mas tem sede em Venda Nova do Imigrante-ES.

Para Roberta, é nítido as praças que a Granado tem atuado mais fortemente. “Hoje estamos muito mais fortes no Sudeste, em especial pela presença de grandes players como Petz, Pet Love, Zee Now, entre outros formadores de opinião”, revela.

Particularidades do setor

“O segmento de higiene para pets é sensacional. A pandemia deu uma atrasada em alguns de nossos campos de vendas, mas o digital, por exemplo, dobrou o faturamento!”

aponta Patrick Domingues, gerente de marketing da MB Pet

O segmento pet care brasileiro se caracteriza por empresas antenadas em tendências mundiais, verdadeiras experts no ramo. “São, em geral, empresa nacionais e poucas delas de grande porte, que evoluíram com o mercado, têm grande entendimento sobre os animais e foram se construindo através das necessidades do mercado, bem como as inovações a nível mundial desse ramo”, aponta José.

Para Odir Ferreira Neto, diretor comercial da Petmais, que atua em todo o Brasil com 22 marcas diferentes e exporta para 12 países na América Latina, América do Norte e Europa, a primeira grande particularidade do setor é que o segmento pet care vive de inovação e, portanto, de desenvolvimento de novos produtos e técnicas de fabricação. “Devido a evolução tecnológica, um produto pode se tornar obsoleto em pouco mais de 2 anos. Para a Petmais, a capacidade de envolver novas tecnologias no processo produtivo é fundamental para a sobrevivência no setor”, afirma.  

Roberta, cuja marca ingressou no segmento pet care há mais de 20 anos e, em 2021, foi revitalizada, conta que neste momento é importante enxergar a oportunidade e entender o comportamento do shopper pós início da pandemia. “Isso é fundamental para se lançar no mercado de maneira assertiva. Feito isso, é o momento de ousar! Hoje o diferencial é ser inovador, oferecer mais com as características e benefícios dos produtos, fazer parcerias estratégicas via marketing, com influencers, eventos on-line e regionais”, completa. “A Granado tem o grande diferencial de ter produtos de qualidade e tradição no portfólio para humanos. Nosso objetivo é chegar ao mesmo nível de reconhecimento no segmento pet”, continua Roberta.

Carla aponta como particularidade o fato do setor “mexer” com o lado sentimental dos donos de animais de estimação e o bem-estar dos bichinhos. “Esses dois ângulos devem ser preenchidos e observados”, ressalta.

Desafios

São muitos os desafios vividos por essa indústria. Um deles, apontado por José, é a concorrência, principalmente, com empresas de grande porte do segmento humano que investem em linhas para animais de estimação. “O preparo para a concorrência, a constante evolução tecnológica dos produtos, a inovação, bem como mercadológica, são os grandes desafios.  Na área de higiene, em específico, além de se preparar com tudo isso acima, ainda tem que se preocupar com as invasões de produtos oriundos da Ásia, que são bons produtos, inovadores e com um custo muito abaixo do mercado”, aponta José. 

“As dificuldades do mercado são os insumos e matéria-prima que são muito particulares em relação ao mercado humano”

comenta Carla Elbert, da Johnny Cão

Carla cita a formação e treinamento de profissionais como um desafio, pois acredita que hoje ainda está muito deficitário. “As dificuldades do mercado são os insumos e matéria-prima que são muito particulares em relação ao mercado humano”, revela . 

O maior desafio, para Patrick, que atua na área de tapetes higiênicos com duas linhas (a Premium e a com Carvão Ativado de Bambu), é trabalhar com produto importado. “O que enfrentamos atualmente é o alto valor da matéria-prima, pois boa parte são utilizados na composição de máscaras para proteção, e como surgiu a pandemia, essa matéria-prima aumentou cerca de 50%, além disso o dólar teve um aumento disparado juntamente com os fretes internacionais, afetando nossa capacidade de estoque e logística”, revela Patrick. 

Perspectivas

Para os próximos 5 anos as expectativas são de crescimento. “Teremos um crescimento ainda de dois dígitos, o que representa grande crescimento”, opina José.

Grande parte se deve à pandemia. “Com as pessoas ficando mais tempo em casa, elas passaram a investir mais em seus pets. Além disso, os consumidores estão mais conectados e o e-commerce se tornou muito estratégico para o mercado pet. O fato de as pessoas se casarem mais tarde, de muita gente morar sozinha e de a população estar mais velha contribui para essa ‘premiunização’. Com isso temos um cenário muito positivo hoje para continuar investindo e uma boa tendência de crescimento”, revela Roberta, que aponta crescimento de 36% no acumulado até o momento em 2021, tem previsão de alcançar pelo menos 50% de crescimento até o final do ano. “Isso é resultado do trabalho realizado, desde o aumento do mix com novos produtos, re-branding, apresentação a novos clientes que enxergaram muito potencial na linha, e, em especial, novos canais, além dos tradicionais canais pet e alimentar”, acrescenta. 

“Para a Petmais, a capacidade de envolver novas tecnologias no processo produtivo é fundamental para a sobrevivência no setor”

compartilha Odir Ferreira Neto, da Petmais

Carla concorda que as perspectivas são excelentes, e o crescimento é exponencial. “O cenário econômico abalou um pouco, mas já estamos reequilibrando dando a volta por cima. Cremos que já está passando, se os empresários colaborarem iremos fechar 2021 com grande crescimento. Tivemos um crescimento de 16% em 2020 e sairemos mais fortes e confiantes nessa crise”, diz  Carla. 

Odir também compartilha de perspectivas positivas devido ao processo de profissionalização e consolidação que ocorre por parte das indústrias. “A entrada de empresas de maior porte no segmento traz equidade para a livre competição, dando lugar a competidores mais organizados e formalizados”, opina. Ainda segundo ele, o crescimento no ano passado foi realmente agressivo em termos de faturamento, porém indexado ao crescimento de custos de matérias primas. “O desabastecimento generalizado na pandemia foi crucial para essa evolução de preços, ainda visto que boa parte dos insumos utilizados são importados ou dolarizados. A Petmais enfrentou isso com base em seus contratos de fornecimento, que regulavam entregas mínimas dos fornecedores mensalmente, bem como limitava variações de preço acima de mercado. Ainda sim, fomos capazes de aumentar market share e penetração de marca”, compartilha.

Carências

Para que esse mercado cresça ainda, José acredita que seja uma aproximação entre os players e os fabricantes. “O mercado exige muita informação, muita segurança e economia, mas tudo isso, com qualidade, fazendo com que o mercado fique cada vez mais profissional. Naturalmente que as inovações e lançamentos constantes de novos produtos na área também são fundamentais para sua evolução”, revela José.

“Precisamos de mais investimentos e abertura do mercado internacional, pois somos um país que tem produtos com qualidade igual e até superior a marcas mundiais. E isso o governo precisa estar por dentro”, opina Carla.

Já Patrick acredita que, para que prospere ainda mais, precisamos de mais fabricantes brasileiros nesse setor de higiene e beleza.

Odir comenta que o principal impacto do setor está ligado à legislação tributária brasileira, que é “difusa e interpretativa para o segmento de higiene e beleza pet, variando para cada Estado da federação de forma desigual”. “É imperativo que a legislação seja simplificada. Essa é uma dificuldade que torna a fabricação no Brasil cada vez menos competitiva em relação ao resto do mundo”, critica. 

Tendências

Como um segmento rico em inovações, os entrevistados compartilham um pouco sobre o que acreditam ser tendências no setor pet care.  

Roberta explica que ao observarem o comportamento do shopper pós início da pandemia, descobriram que eles buscam por: Eficácia e rápida ação (formatos fáceis de usar, multifuncionais, neutralizadores de odores e bactericida); Produtos que entreguem beleza e bem-estar, produtos que entreguem sensação de um spa; e Saúde e segurança, com cuidado suave, que cuidam e tratam do pelo e da pele com suavidade. 

Carla aponta que “o mercado pet já se equipara com o mercado humano em produtos e serviços, e a tendência, certamente, são serviços e produtos cada vez mais qualificados no setor pet care”.

Odir aponta que o mercado pet brasileiro passa por processo de profissionalização e consolidação para acompanhar as mudanças das preferências do consumidor. “Entendemos que o pet care é o principal segmento, dentro do setor pet, que será impactado pela tendência de empresas Environmental, Social and Governance (ESG) e da necessidade de inovação para atender a esse público. 

O consumidor não está mais interessado em apenas comprar, seja um tapete higiênico ou um shampoo pet pagando um bom preço. Hoje ele busca produtos com preocupações ecológicas, que respeitem a comunidade que estão inseridos, que não testem seus produtos em animais (cruelty free) e que respeitem as legislações e cumpram sua função social. Vivemos a era do consumo ativista”, aponta Odir. 


Por: Samia Malas


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