quinta-feira, abril 25, 2024
Aves e Aquarismo

Como manter os peixes saudáveis para a venda

Cardume de molinésia prata: evite deixar peixes gregários sozinhos –
Foto: Arquivo Roberto Vieira

Cuidar dos animais expostos é fundamental, pois a qualidade dos peixes é o principal atrativo para o cliente

A manutenção da qualidade e variedade de peixes a serem expostos e vendidos em uma loja é um dos maiores desafios quando falamos de aquarismo. É comum vermos comentários de aquaristas que frequentam alguma loja e notam peixes magros e doentes em condições de água não apropriadas. Outro relato regular é de pessoas que compram peixes em alguma loja e após a soltura em seus aquários o animal morre sem nenhuma explicação aparente.  

Cuidar da saúde dos animais a serem vendidos, além de uma ação clara de bem-estar dos animais, é uma maneira de não ter prejuízos em sua loja, afinal peixes mortos e doentes não são vendidos e, portanto, não dão lucro. 

Cuidar dos animais expostos também é fundamental quando analisamos a ideia de que, embora os equipamentos e insumos para o aquário sejam importantes para uma loja, a variedade e qualidade dos peixes é o principal atrativo para o cliente. Porém os cuidados específicos para cada peixe aumentam proporcionalmente à variedade de animais que estão na loja. Analisar os cuidados necessário aos peixes de maneira geral é um grande risco de perda. Peixes são muito diferentes entre si. Numa comparação simples, considerar que todos os peixes podem ser mantidos sobre a mesma condição seria o mesmo que admitir que todos os mamíferos também estariam, e convenhamos, não é preciso conhecimento técnico para saber que não devemos ter o mesmo manejo para cães e cabras, mesmos os dois sendo mamíferos.

Existem peixes de diferentes condições de água, mesmo quando passamos da diferença entre água doce e salgada, diferentes necessidades comportamentais e alimentares. Portanto o manejo variado e individual é o primeiro grande passo para manter animais saudáveis.

Cascudo L114 com toca no aquário de exposição: tocas ajudam a
evitar brigas e adaptar os animais – Foto: Arquivo Roberto Vieira

Conheça seu peixe

Uma barreira que muita gente se impõe ao aquarismo é referente ao nome dos animais e plantas. É comum eles serem tratados pelo nome científico ao invés do popular dentro do hobby, pois nomes populares variam muito de região a região, e seu uso pode fazer com que informações sobre as necessidades da espécie fiquem desencontradas. É importante que o lojista e seus colaboradores conheçam os animais pelo menos pelo nome comercial mais comum. 

Conhecer o animal vendido o valoriza: Betta koi é uma variedade de betta que possui maior valor agregado – Foto: Flavio L. Sang

Não podemos exigir de nossos clientes conhecimento sobre os animais se nós mesmos não temos esse conhecimento. O lojista não pode vender o peixinho vermelho, ou peixinho azul. A ele cabe conhecer diferentes espécies e demonstrar na hora da venda que eles são peixes diferentes, além de informar as necessidades da espécie. Em todos os países onde o aquarismo é desenvolvido como um negócio rentável, lojas são, via de regra, consideradas fontes de informações confiáveis sobre a manutenção do aquário.

Qualidade da água

A saúde dos animais mantidos em um aquário está diretamente ligada a qualidade de água. Economizar em filtragem pode representar gastos em manutenções desnecessárias, além de ser um risco à saúde dos animais que serão mantidos ali.  A filtragem deve ser projetada considerando a quantidade de água e animais que poderão ser colocados na bateria. Uma filtragem com uma boa área de contato com a água, além de um projeto que permita manutenção rápida, ajuda muito na manutenção. Escolher por sistemas de filtragem que permitam limpeza rápida, também contribui para a praticidade e a manutenção da qualidade de água

Escolhendo os peixes para venda

Distribuir as baterias de acordo com a necessidade dos animais é muito importante. Por exemplo, animais de água mais alcalina, como ciclídeos africanos, podem ter um espaço próprio na loja.  Os animais da mesma espécie devem ser mantidos, via de regra, com exemplares de tamanho similar. Isso além de deixar o aquário com aparência mais homogênea para observação do cliente, ajuda a diminuir a chance de animais oprimidos por outros com comportamento dominante. 

Quando for necessário colocar animais diferentes num mesmo espaço, pesquise a compatibilidade entre eles e coloque sempre animais que sejam facilmente distinguíveis entre si. Animais parecidos podem ser confundidos tanto pelos funcionários quanto pelos clientes e gerar atritos desnecessários.

Evite comprar peixes da mesma água onde estejam peixes doentes. O estresse do transporte pode baixar a imunidade do peixe, e mesmo saudável, ele foi exposto ao patógeno e pode ficar doente depois de um tempo em sua loja.

Espaço para os animais expostos

Respeite o espaço dos seus aquários. Muitos peixes em um mesmo espaço são mais propensos a ficarem doentes, além de sujarem mais a água criando um círculo vicioso. Os aquários para exposição não costumam ser muito grandes, pois além do espaço físico que compromete num estabelecimento, um tamanho menor ajuda na captura dos peixes evitando perseguições desnecessárias. Para melhor saúde dos animais, enriquecimento ambiental é interessante. Embora seja comum encontrarmos baterias sem substrato e lisas que permitem melhor limpeza, porém, na maioria dos casos, os peixes expostos nesse ambiente ficam sem cor. Entramos aqui numa equação complicada que engloba higiene e saúde comportamental dos animais. É possível unir os dois pontos em equilíbrio com quantidades moderadas de substrato ao fundo do aquário, e complementar o ambiente com tocas (naturais ou artificiais) e plantas. Além disso, isso serve como mostruário de alguns ornamentos que podem ser vendidos na loja também.   

Ter exemplos de montagem na loja podem ser incentivo para os clientes – Foto: Arquivo Roberto Vieira

Alguns objetos simples como tijolo baiano ou lajotas podem fornecer várias tocas ao mesmo tempo que, em casos de peixes territoriais, é uma forma de fornecer abrigos que permitem fugas e diminuem perseguição. É possível também usar materiais funcionais para a qualidade de água, como troncos ou rochas calcárias, que além de ornamentar e fornecer abrigo, ajudarão a condicionar o aquário para os peixes que serão vendidos. 

Alimentação de qualidade

Existe o ditado de que o peixe morre pela boca, mas pode viver por ela também. Tenha variedade de alimentação para os seus animais. Use rações de diferentes texturas (flocos, pellets, granulados, soft pellets, sticks) e principalmente, use as rações que são vendidas na sua loja. Rações de qualidade ajudam a promover a saúde e a cor dos peixes e, geralmente, mostra-se um investimento válido para qualquer loja que tenha peixes. 

Alevinos de tucunaré em aquário com enriquecimento ambiental: mesmo que os animais não usem as tocas, o ambiente ajuda na sua manutenção – Foto: Arquivo Roberto Vieira

Tenha também sempre disponíveis alimentos congelados e alguns vivos, como blood worms, artemias, camarão, entre outros, pois alguns peixes, principalmente incomuns, podem ser exigentes com alimentação. Use apenas peixes vivos quando o animal não aceitar outro tipo de alimento, pois apesar de peixes comerem geralmente peixes, existe uma grande chance de fornecer animais contaminados que podem transmitir doenças. Existem peixes predadores como tucunarés que são difíceis de adaptar na ração. Caso não tenha opção na alimentação, prefira peixes criados ao invés de capturados, isso também diminui muito a chance de contaminação.

Peixes que compartilham água

Quanto mais parecidas as espécies, maior a chance de compartilharem as mesmas doenças. Então evite colocar remessas diferentes de animais da mesma espécie ou aparentadas na mesma água se você não possui quarentena para os peixes recém-chegados na loja. Um exemplo, caso tenha disponível uma remessa de acará bandeira marmorato, e chegue uma nova remessa de acará bandeira palhaço, não os coloque na mesma água. Apesar das cores muito diferente, são da mesma espécie e caso a nova remessa venha contaminada, há grande risco de comprometer a que já estava em exposição. Ter aquários individualizados é a maneira mais segura de controlar contaminação, assim como não compartilhar redes e utensílios dos aquários, mas na maioria dos casos isso é economicamente inviável e usamos baterias com várias divisórias tendo mais de um aquário com água compartilhada. Tente individualizar por bateria de aquários interligados os utensílios (como redes e sifão), caso não seja possível, opte por higienizar constantemente os utensílios após o uso. Imersão em água com formol é uma das opções. Também pode-se usar outros produtos, lembrando sempre de tomar cuidado ao colocar a rede nos aquários, sacudindo-as antes para remover a maior quantidade possível de resíduo. Contudo, se a separação por água for uma opção válida não relute em optar por isso.

Rosáceo com Ichtio: peixes doentes dão mal aspecto ao aquário, assim, evite vendê-los e não tenha vergonha de tratá-los – Foto: Thiago Antunes

Seus peixes ficaram doentes?

 Calma, doenças em animais são tão comuns como em nós humanos. O ideal sempre é ter uma área disponível para tratamento em um local isolado da loja, mas caso isso não seja possível, o jeito é tratar diretamente na bateria. Não tenha vergonha de colocar a bateria em tratamento e colocar aviso de que os peixes ali não estão à venda, mesmo os de aparência saudável. Isso mostrará ao cliente que existe a preocupação com a qualidade dos animais vendidos. 

Estude bem os medicamentos que você usará, pois muito deles podem comprometer a qualidade da água. Pesquise sobre as principais doenças em aquários e monte um sistema de identificação que possa ajudar seus colaboradores. 

Quando os peixes, outrora doentes, não apresentarem mais sintomas e estiverem se alimentando normalmente, é possível comercializá-los sem problemas. Seja sincero com o cliente quando questionado sobre a alimentação do animal a ser vendido, e se possível, mostre o animal se alimentando. O comportamento em aceitar facilmente o alimento é associado a animais saudáveis e adaptados às condições do aquário. 


Por ROBERTO VIEIRA – Proprietário da Flora Fish Aquários, de Santos, SP, biólogo, físico e aquarista há mais de 26 anos. É moderador do fórum Brasil Reef (www.brasilreef.com).


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