quinta-feira, abril 25, 2024
Aves e Aquarismo

Cativar mais hobbistas é dever dos players desse segmento

Foto: Andrey Nikitin/IstockPhoto

Entre os desafios do setor estão o fomento do hobby, concorrência com o e-commerce e leis que favoreçam o setor

A diversidade de espécies, cores e formas de peixes é o grande charme desse segmento do mercado pet. 

Alex Almeida Soares, gerente comercial da Farmadog, de São Paulo-SP, distribuidora que atua em São Paulo, Grande São Paulo, Vale do Paraíba, Litoral Norte-SP, Grande Campinas, Grande Sorocaba, Grande Limeira e Circuito das Águas, acredita que, de um modo geral, o mercado é promissor, com perspectivas de crescimento. “Acreditamos que quando houver uma regulamentação, feita pelo mercado mesmo, equiparando-se preços de e-commerce com preço de loja física, isso vai trazer ainda mais oportunidade de crescimento, pois assim, os lojistas poderão trabalhar em cima do atendimento, do serviço e cobrar por esse valor agregado”, opina. Aliado a isso, Alex aponta que – além dos 11 milhões de aquaristas que temos no Brasil – temos também grande número de amantes de cães e gatos, que podem aderir ao hobby, sendo um mercado para se explorar. “É preciso alinhar estratégias de marketing para cativar esse público, seja adultos, adolescentes ou crianças, com ações assertivas que gerem novos apaixonados por peixes. As lojas também devem ter coragem de investir, e com mais critério, com profissionais e atendimento especializado e personalizado, isso sim vai fazer com que a loja tenha clientes fiéis e que podem ser estimulados a consumir produtos em outros segmentos, como o de aquarismo”, acrescenta Alex.   

“Quando houver uma regulamentação, feita pelo mercado mesmo, equiparando-se preços de e-commerce com preço de loja física, isso vai trazer ainda mais oportunidade de crescimento”

opina Alex Almeida Soares, da Farmadog

Paulo Victor Dias Almeida, consultor de vendas e sócio-proprietário da Distak Pet, de Serra-ES, atua há 6 anos nesse Estado com a distribuição de equipamentos e rações de aquarismo nacionais e importados. E segundo ele, o mercado de aquarismo tem passado por um período de crescimento nos últimos anos devido ao desenvolvimento de tecnologias de equipamentos, rações e condicionadores, e maior acesso de informações sobre o hobbypara novos aquaristas. “Em função disso, acreditamos que temos ainda muitos clientes em potencial que ainda vão aderir ao hobby. Já em 2020 tivemos um crescimento significativo, devido ao período grande de quarentena ou home office, levando a criação de novos hobbistas e um aperfeiçoamento dos aquaristas já existentes que, por estarem em contato mais constante com seus aquários, investiram mais neles”, opina. Além disso, Paulo diz que, apesar de países como o Japão, China e Alemanha serem considerados forças mundiais no mercado de peixes ornamentais, nosso potencial de crescimento é muito maior que o deles, pois temos uma quantidade populacional significativamente maior e ocupamos uma posição de destaque no cenário mundial, sendo o principal celeiro de espécies de peixes ornamentais. Por outro lado, a pandemia pode trazer desafios e dificuldades que podem gerar instabilidade para o mercado no futuro, opina Paulo. “A pandemia afetou os preços dos insumos e das importações, causando um grande reajuste de valor em todos os tipos de equipamentos e fabricação ou importação de rações de peixes ornamentais. Houve casos com mais de 100% de aumento do produto”, compartilha.  

“O fomento de palestras, encontros e união dos participantes do setor de aquarismo beneficiará o crescimento do nosso segmento”

afirma Paulo Victor Dias Almeida, da Distak Pet Distribuidora

Augusto Aparecido Tinfre, de São Paulo-SP, consultor de vendas da World Trotter, que atua com distribuição de produtos para aquários e lagos para todo o Brasil, também vê o mercado com bons olhos. “Estamos em constante crescimento graças ao empenho e persistência dos empresários do setor que são apaixonados pelo aquarismo e não medem esforços para que esse mercado cresça e se profissionalize cada vez mais. Grande parte dos empresários são aquaristas também e isso faz com que melhorem cada vez mais suas linhas de produtos e técnicas para atender a demanda que existe no Brasil por um aquarismo autossustentável, que respeita as leis ambientais e que traz prazer aos praticantes do hobby. Além disso, temos no Brasil aquaristas premiados no exterior, com nível cada vez mais elevado, muito técnico, o que contribui para nossa visibilidade fora, nosso crescimento e nos dá orgulho”, opina. Ainda segundo ele, embora EUA e Alemanha sejam fortes no setor, o Brasil não fica muito atrás deles. “Temos muito espaço para crescer e muitos empresários investindo nesse setor. Já somos referência no cenário mundial no que diz respeito ao aquário plantado, especialmente”, acrescenta Augusto. 

“O mercado está cada vez mais competitivo e a loja com mais opções em termos de produtos e serviços para montar e manter aquários ou lagos, terá a preferência dos clientes”

diz Augusto Aparecido Tinfre, da World Trotter

Segundo Ivan Oliveira, vice-presidente da Associação Brasileira de Lojas de Aquariofilia (ABLA), no Brasil, temos um dos maiores mercados pet do mundo em cães e gatos, gerando a abertura de grandes pet shops que incluíram o setor de aquariofilia em seu portfólio, com mais de 5.000 pontos de vendas de aquários, produtos e peixes ornamentais – segundo o Sebrae – e mais de 4.000 piscicultores ornamentais em todo o país – segundo a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). “O mercado de aquarismo vem crescendo no Brasil, impulsionado pelas grandes redes de pet shop que têm o setor de aquários em seu mix de vendas, pela internet que divulga e vende produtos com facilidade,  e por ser um pet/hobby que requer pouco espaço e não necessita de cuidados diários. Por outro lado, temos burocracias, cargas tributárias e muitas leis ambientais que, por vezes, emperram esse setor de crescer de forma sustentável, tanto o quanto em outros países”, comenta. Contudo, Ivan aponta alguns avanços importantes do setor. “A burocracia nos últimos 2 anos diminuiu com a dispensa de cadastro no Ministerio da Agricultura para as lojas que vendem somente no varejo e a dispensa de relatorio anual de atividades do IBAMA. Em maio de 2020 tivemos a publicação de uma nova normativa que, em janeiro de 2021, foi reeditada como Portaria nº 17. Com ela, implementa-se uma política de ordenamento pesqueiro unificado no Brasil, onde de forma coordenada, o Governo Federal traça novas diretrizes e políticas que permitiram o desenvolvimento da aquariofilia, recuperando, inclusive, mercados que havíamos perdido nos últimos anos. Além disso, as pressões de pesca sob determinadas espécies diminuirão, pois haverá uma maior diversidade de espécies disponíveis ao mercado, possibilitando que as empresas diversifiquem sua atuação. Outro avanço significativo trazido pela Instrução Normativa SAP nº10/2020, foi a concretização da Nota Fiscal Eletrônica, como único documento de origem, trânsito e destino dos organismos aquáticos com fins de ornamentação e de aquariofilia”, lista. 

PARTICULARIDADES

 Paulo destaca que saber passar a informação ao cliente lojista ou consumidor final (hobbysta) é fundamental nesse segmento. “Temos que ter um amplo conhecimento dos equipamentos e novas tecnologias que chegam, saber traduzir isso de forma simples e coesa para um fácil entendimento dos clientes”, afirma. Assim, Paulo ressalta que quem trabalha nessa área tem que ter um conhecimento básico bem extenso, inclusive nas áreas de química, biologia, nutrição, elétrica, física etc. “Desse modo, capacitar profissionais para atuar nessa área é um desafio. Inclusive, acredito que o fomento de palestras, encontros e união dos participantes do setor de aquarismo beneficiará o crescimento do nosso segmento, pois é necessário uma maior capacitação dos lojistas e vendedores para um atendimento de melhor qualidade, o que aumentará o número de amantes pela aquariofilia”, enfatiza, ao apontar outro grande entrave: “Temos diferentes tipos de tributações estaduais que levam a uma concorrência desleal com preços de internet vindos de estados que são beneficiados com menor tributo.” 

Augusto também cita a questão da mão de obra especializada como a maior particularidade do setor. “Toda loja que trabalha com peixes ornamentais requer profissionais que conheçam o manejo desses animais para que possam mantê-los saudáveis e orientar o cliente na montagem do aquário e manejo doméstico”, enfatiza. Ainda segundo ele, o aumento do frete na pandemia é uma outra grande dificuldade no setor de importados. “Mas é um desafio que o mercado tem que enfrentar e esperamos que melhore no futuro”, diz. “Acreditamos que nos próximos anos a economia vai retomar o seu crescimento. Nossa fauna possui muitos peixes para o hobby. Temos também uma associação, a ABLA, que dá suporte aos lojistas. Ou seja, o nosso mercado está crescendo de maneira organizada e profissional”, lista Augusto. “O mercado tem crescido em todas as regiões, mas é mais forte nas capitas pela facilidade de acesso aos produtos, sobretudo São Paulo, que é um polo comercial, tendo muitas importadoras que distribuem para todo o Brasil”, acrescenta.

Ivan aponta que o hobby é mais forte no sudeste do Brasil. “Nas grandes cidades, muitos moram em prédios e têm menos tempo e acesso ao lazer”, argumenta. Ainda segundo ele, São Paulo é o Estado que mais consome produtos de aquarismo, representando cerca de 60%  do mercado, seguidos de Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Brasília-DF. “Estados do Nordeste como Bahia, Pernambuco e Ceará e o Pará tem se destacado no varejo”, acrescenta.

“Temos burocracias, cargas tributárias e muitas leis ambientais que, por vezes, emperram esse setor de crescer de forma sustentável”

aponta Ivan Oliveira, vice-presidente da ABLA

Ivan também aponta uma particularidade interessante do setor. “Empresas pet atacadistas que não nasceram no ramo do aquarismo trabalham com equipamentos e rações, mas somente empresas ‘raiz’ do aquarismo que desenvolvem novos produtos e trabalham com seres vivos (peixes, invertebrados e plantas)”, destaca. Ivan também concorda que a mão de obra especializada é uma exigência básica. “Como são dezenas de espécies com suas particularidades e variedades de equipamentos e tipos de aquário, de animais que vivem em outro ambiente (a água), a atuação nesse mercado necessita de mais técnica e conhecimento do que outros animais. Para isso, os atacados e lojas pet de varejo precisam dedicar mais tempo para procurar e treinar bons profissionais para cuidar do estoque vivo e atender, transmitindo informações corretas aos clientes”, diz.

TENDÊNCIAS

Para Paulo, as tendências do setor são equipamentos cada vez mais inovadores que facilitam a montagem de projetos. “Um exemplo foi a evolução das luminárias de aquários, que mudaram de incandescentes para fluorescentes e depois para leds. A tendência do mercado de rações não fica para trás, pois cada vez mais, as empresas estão investindo no desenvolvimento de suas linhas”, aponta. 

Augusto observa que os empresários do setor estão se mantendo focados em melhorar o atendimento, linha de produtos e em trazer mais novidades, acompanhando as novas tendências de mercado que surgem na Europa, EUA e Ásia. “O mercado está cada vez mais competitivo e a loja com mais opções em termos de produtos e serviços para montar e manter aquários ou lagos, terá a preferência dos clientes”, finaliza Augusto.


Por: Samia Malas


Clique aqui e adquira já a edição 234 da Revista PetCenter/Groom Brasil e veja todas as reportagens na íntegra!