terça-feira, abril 16, 2024
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“Qualquer crise é um chamado à mudança!”, diz Ricardo Amorim sobre o mercado pet

A crise brasileira tem solução? E como o mercado pet fica em meio a esse furacão econômico? Esses foram alguns pontos tratados pelo economista Ricardo Amorim, em palestra feita em São Paulo, no dia 10 de novembro, durante o evento de lançamento de Simparic, novo antiparasitário oral da Zoetis. O palestrante concedeu uma entrevista exclusiva para a revista Pet Center e explicou como empresários do setor podem prosperar na atual conjuntura.
Economista formado pela USP, ele é pós-graduado em Administração e Finanças Internacionais pela ESSEC de Paris. Atuando no mercado financeiro desde 1992, trabalhou em Nova York, Paris e São Paulo, sempre como economista e estrategista de investimentos. Renomado palestrante, também é um dos debatedores do programa Manhattan Connection, da Globo News, desde 2003, e colunista na revista IstoÉ. Veja alguns conselhos compartilhados pelo economista.


Ricardo Amorim explica que os ciclos econômicos positivos e negativos são instáveis
Foto: Editora Top.Co.
 
Empresa blindada à crise
Cuidar bem do caixa é sempre importante, salienta Ricardo. Em momentos de crise é ainda mais, pois é preciso superá-la sem grandes danos. “Como é que uma empresa sobrevive à crise, mesmo nos momentos mais difíceis? Para fazer isso é necessário segurar os custos, porém sem perder as vantagens competitivas, que a permitirão crescer depois”. Este é o grande desafio, segundo o economista: manter os custos sob controle e, ao mesmo tempo, investir em melhorar processos, produtos, serviços e atendimento, para se tornar mais forte ainda nos períodos de dificuldade. “É claro que não é fácil. E é exatamente por isso que gera grandes oportunidades para quem consegue fazer”.
 
Oportunidade na crise
“Qualquer crise é um chamado à mudança. É mais do que um chamado, é um grito! Ou você muda ou a coisa vai ficar ainda pior. Isso vale na nossa vida pessoal, para o país e para as empresas”, salienta Ricardo. Ele exemplifica de uma forma simples. Na vida pessoal, por exemplo, caso cometamos excessos, seja com bebidas ou alimentos, nossa saúde pode não aguentar. Naturalmente, o caso levará a mudanças de hábitos, do contrário a situação pode ficar ainda mais crítica. “Para as empresas vale a mesma coisa. Quando vem a crise é hora de pensarmos em como podemos ficar mais fortes.”
É possível se fortalecer ofertando produtos e serviços melhores, bem como atendimento e um processo de produção mais eficaz, aconselha. “Como é que você faz isso? Inovando, fazendo diferente. É fácil? Nem um pouco, se fosse todo mundo faria. Exatamente porque a minoria ou muitos não conseguem fazer que há grandes oportunidades para quem consegue. Requer muito esforço e trabalho bem feito, mas os que conseguem fazer podem colher excelentes resultados.”
 

Economista Ricardo Amorim, em palestra feita durante o evento de lançamento de Simparic
Foto: Divulgação/Rafael Stedile

Para o Brasil sair da crise
“Passando a crise o Brasil precisa acabar com a desconfiança, que mata o consumo e os investimentos”, destaca o economista. Trata-se de um círculo vicioso: consumidor preocupado não gasta, assim como o empresário, que não investe. Só que ao não investir, ele não gera emprego e, quando o consumidor não gasta, as empresas vendem menos, provocando demissões. “E como é que nós quebramos esse círculo? Matando de fato a desconfiança presente hoje no país. Basicamente ela passa pela ideia de: Será que o Governo vai conseguir honrar seus compromissos no futuro ou não?”, pondera.
Ricardo destaca ainda que a enorme dívida não para de crescer, pois o Governo continua gastando muito mais do que arrecada “Só tem um jeito: ele precisa reequilibrar as contas públicas”, afirma. Para isso, ele diz que é preciso agir como uma empresa ou família em situação semelhante: reduzindo gastos. “Para cortá-los, o Governo precisa aprovar duas reformas que colocam as contas públicas em ordem. A primeira é a PEC dos gastos, a segunda a reforma da previdência”, opina. A proposta de emenda constitucional 55, conhecida como PEC do teto dos gatos públicos já foi aprovada. Resta agora a reforma da previdência ser votada pelos políticos.
Com ambas, confiança, consumo e investimentos retornam, segundo o economista. Paralelamente, oportunidades de emprego também ressurgem e, com mais pessoas empregadas, o consumo cresce. Com as empresas vendendo mais, aumenta-se a contratação de novos funcionários. “Contratando mais, os salários também sobem, pois para de sobrar profissionais no mercado de trabalho. O crescimento dos salários aumenta a renda das pessoas, o consumo e as vendas das empresas. A gente gera, portanto, um novo círculo vicioso e a economia começa surpreender para melhor.”
 
Futuro otimista
“O que nós gostaríamos é que tudo desse certo, que só tivéssemos sucesso. Na vida real, porém, não funciona assim. Temos desafios, pedras no meio do caminho, altos e baixos. A economia funciona igualzinho: há momentos melhores e piores”, aponta Ricardo. 
O economista diz ter estudado 180 países – em alguns casos, conseguiu dados de 1900 – e descobriu que em todos há uma sequência de círculos positivos e negativos. Explica que uma sucessão de períodos positivos aumenta a expectativa das pessoas pela economia, gerando mais otimismo nos anos seguintes e, consequentemente, uma melhora ainda maior. Até que esse ciclo acaba e é revertido por um que funciona de forma oposta: a economia surpreende para pior, abaixam-se as expectativas, gerando, gradualmente, mais pessimismo. “Esse ciclo também acaba, vindo a seguir um positivo. É um positivo e um negativo, um positivo e negativo. Os ciclos não são estáveis, os mais curtos, que eu encontrei, duram três anos e os mais longos oito – sejam positivos ou negativos”.
 Ricardo ressalta que o Brasil já está no sexto ano de surpresas negativas e que poucas vezes na história houve um período maior do que esse. “É exatamente esse ponto que me deixa mais otimista”, destaca. Principalmente devido às mudanças de políticas econômicas que já aconteceram, o longo tempo desse ciclo e o fato de que as expectativas para 2017 já são – apesar de fracas- melhores que as do último ano, explica.
 
Setor pet mais forte
E o que isso quer dizer? Significa que a economia brasileira, como um todo, vai começar a melhorar ao invés de piorar, afirma o economista. “O setor pet, em particular, sentiu menos a crise. Sim, o crescimento diminuiu, mas diminuir é muito melhor do que alguns setores que tiveram quedas brutais”, analisa. 
Para Ricardo, quando o segmento se reerguer, sua recuperação será mais forte ainda. “Há um movimento de expansão de cuidados com os pets, o resultado disso é que o setor cresce menos quando a economia vai mal e, por outro lado, cresce mais quando a economia melhora, que é o que deve acontecer.”
 
Lições da crise
Algumas lições podem ser extraídas nesse momento crítico. Ricardo exemplifica, mais uma vez, de forma prática. Famílias e empresas sabem que não se pode gastar mais do que ganha, caso contrário, será necessário emprestar cada vez mais dinheiro, endividando-se até o ponto de os credores não confiarem mais e se recusarem a conceder novos empréstimos. “Aparentemente, o governo Dilma não sabia disso. E foi gastando consistentemente mais do que ganhava, aliás o buraco ficava cada vez maior e a necessidade de financiamento também. Isso colocou o Brasil na crise do tamanho de que todos nós sabemos”, analisa. O empresariado precisa ter isso como lição e fazer exatamente o contrário, aconselha.
O economista pondera que em algum momento é possível o empresário gastar mais do que está ganhando, pois o investimento gerará um retorno maior no futuro.  Contudo, isso não pode se tornar uma regra, ou seja, sem uma perspectiva concreta de mudança. “Aliás, no caso do Brasil, é por isso que é importante a PEC dos gastos, uma medida para que o déficit seja cada vez menor ao longo dos próximos anos. Até que se torne um superávit e o país possa, gradualmente, diminuir o tamanho de sua divida, na medida em que vá pagando-a”.
 
Novos investimentos
Ricardo orienta que, antes de fazer qualquer investimento, o empresário precisa responder algumas questões: O retorno vai ser maior do que o investimento? Quanto tempo levará para que isso aconteça? É possível manter a empresa saudável, sem problemas, durante esse tempo? O fluxo de caixa dos meses ou anos seguintes comporta isso? “Se comportar, ótimo. Invista, aproveite! Se não, o empresário precisa ser mais cauteloso”, atenta o economista.
Em épocas de crise, a economia está mais sensível e dificulta novos investimentos. As receitas podem cair e as fontes de financiamento secar. “Todos que precisaram de crédito nos últimos anos perceberam: das duas uma, ou não havia disponibilidade, ou, quando havia, o custo ficou muito alto”, lembra Ricardo, ressaltando que acontece exatamente o oposto quando a economia começa a melhorar. “Fica mais fácil de investir, pois o que temos de perspectivas futuras são: o crescimento da economia e, consequentemente, o aumento da procura por produtos e serviços oferecidos – inclusive no setor pet. O resultado disso são condições melhores, além disso, normalmente, ao menos no início do ciclo, também acontecem em paralelo queda das taxas de juros e expansão do crédito, melhorando as receitas e o financiamento.”