quarta-feira, abril 24, 2024
Administração

Felinos são a bola da vez no mercado pet

Entre “miaus” e “ronrons” e com aquele jeitinho misterioso e independente que só os felinos têm, a espécie ganha cada vez mais espaço nos lares brasileiros e, consequentemente, no mercado pet, que não fica para trás e se especializa para atender às necessidades desse cliente exigente e fiel. Apesar de o número de cachorros como pets continuar a subir e de ainda ser o animal de companhia mais comum no Brasil, esse cenário está mudando rapidamente devido ao estilo de vida moderno (moradias menores e jornadas de trabalho extensas), aliado ao maior conhecimento que os brasileiros passaram a ter sobre a espécie e às características específicas dos bichanos (independência, praticidade higiênica e facilidade de adaptação a locais com pouco espaço e sem a presença de tutores). Estima-se que em 10 anos haverá um gato para cada cão no país.
 

“O número de felinos como pets cresceu muito nos últimos anos na Europa e nos Estados Unidos e, por isso, tende a se estabilizar. No entanto, no Brasil e na América Latina essa tendência deve aumentar, pois, como o nosso país era mais rural até alguns anos atrás, a migração para as cidades e residências menores é um fenômeno relativamente novo”, explica o médico veterinário e professor especialista em felinos Gelson Genaro.  
 

Além dos pontos já citados, o presidente do Clube Brasileiro do Gato (CBG), Gerson Alves, ressalta a ansiedade gerada pela vida moderna. “A rotina agitada, a falta de tempo e os ambientes reduzidos resultam em um nível de estresse muito alto nas pessoas, por isso elas necessitam do afeto de um pet, e o gato desenvolve essa função muito bem”, explica Alves. Ele também aponta que houve desmitificação do felino ao longo dos anos. “O CBG realiza há 42 anos um trabalho de divulgação do gato como pet, levando informações para as pessoas interessadas, desvendando mitos sobre a espécie e elucidando o seu processo histórico na sociedade”. O aumento da população de gatos tem apresentado reflexos nas clínicas veterinárias e centros estéticos, com o surgimento de estabelecimentos especializados no atendimento aos felinos, além da segmentação dos pontos de venda de produtos pet, que, para agradar aos exigentes gateiros, devem apresentar itens específicos para a espécie em uma seção especial da loja. 


iStock/ GlobalP

 

​OS MAIS PROCURADOS​
De acordo com Ana Claúdia S. Andrade, presidente do clube de criadores de gatos filiado à The International Cat Association (TICA) Allegro Cat Club, o Persa é o mais procurado, pois trata-se da raça mais popular entre quem não é criador. “Muitos solicitam o Angorá, mas acham que qualquer gato peludo é Angorá, e o Siamês, referindo-se ao gato doméstico ponteado. Algumas pessoas mais informadas buscam o Maine Coon, o gato gigante, e alguns o Munchkin, o bichano das pernas curtas”, explica Ana Cláudia, que ressalta que, apesar de o estado do Paraná, onde o clube está localizado, ainda estar aquém dos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, em relação ao aumento da população de bichanos, também é possível perceber o crescimento da procura por essa espécie como animal de companhia na região e, consequentemente, da demanda por atendimento veterinário e pet shops especializados nesse segmento”. 

 

 

PONTOS A SEREM MELHORADOS​
O fato de ser um animal independente não significa não requerer cuidados especiais como todos os animais de companhia. “As necessidades dos felinos variam de acordo com a raça, o sexo e a idade. Os filhotes são mais interativos, e um SRD pode ser mais ativo do que um Persa, por exemplo. Então, basicamente, as necessidades dos bichanos se referem à: alimentação, vacinação, vermifugação, escovação e ambiente interativo”, diz Genaro, que complementa: “Quando o bichano está entediado, ele se auto-estimula, ou seja, se lambe em excesso para ter o que fazer. Então, o tutor deve perceber e suprir essa necessidade, pois, apesar de se adaptar bem a ambientes pequenos e de não exigir passeios como os cães, o gato não suporta qualquer condição, como locais não enriquecidos, por exemplo.”

 

 

​A REAL NECESSIDADE DE UM GATO​
Apesar do crescimento e da especialização do mercado pet e veterinário, muitos pontos ainda devem ser aperfeiçoados. “Infelizmente o gato ainda é visto como um ‘cãozinho pequeno’. Falo isso como criadora. Na faculdade de veterinária ainda estudamos muito pouco sobre gatos. Por isso, iniciei minha pós-graduação em medicina felina antes mesmo de concluir a faculdade, pois um bom profissional tem que conhecer muito bem a espécie de que trata”, diz Ana Cláudia. 
 

“O número de gatos está crescendo, mas a interação com seus tutores ainda precisa ser melhorada, com brinquedos, caixas de papelão, arranhadores. Por isso, o lojista também deve ter um conhecimento mais amplo sobre as necessidades dos bichanos para melhor atender a esse cliente e, consequentemente, aprimorar essa relação”, diz Genaro. 

“O lojista que vende itens para gatos e as indústrias do mercado pet devem buscar informações nas fontes corretas, como, por exemplo, criadores de gatos e pessoas que entendam bem sobre a espécie. Além disso, é importante estar sempre ligado nas tendências internacionais, visto que o mercado pet felino lá fora tem mais experiência que o nosso, e também participar de exposições de gatos. As indústrias de alimentação participam mais desses eventos, mas ainda não vemos empresas de medicamentos ou acessórios específicos para os felinos, por exemplo”, indica Alves.


iStock/ kati1313

 

​GATEIRO: UM CLIENTE EXIGENTE
 
De acordo com o médico veterinário Gelson Genaro, tanto os cães quanto os gatos precisam de um tutor atencioso, interativo, que conheça as necessidades da espécie e que se preocupe com o animal ao longo de toda a sua vida, que pode durar até 15 ou 20 anos. 
 
Segundo a presidente do Allegro Cat Club, os apaixonados por gatos são, antes de mais nada, pessoas com ‘espírito felino’. “Geralmente os gateiros são bastante observadores, minuciosos, astutos, curiosos e inteligentes. Dificilmente o tutor de gato chega ao criador ou ao veterinário sem já ter se informado ao menos um pouco sobre o que procura. Eles pesquisam em diversas fontes de informações, como livros, revistas e internet. Acho que a grande diferença entre os donos de gatos e de cães é esta: os gateiros, a meu ver, são mais bem informados”, diz Ana Cláudia. 
 
“A relação entre o cachorro e o seu tutor é de dependência, já que o cão é obediente e existe hierarquia, já entre o gato e o gateiro há igualdade, ou seja, os dois estão no mesmo nível, e o felino nos respeita quando é respeitado”, diz Gerson Alves.
Por isso, você, lojista, deve estar tão ou mais bem informado sobre o universo felino para atender e, principalmente, fidelizar esse cliente tão antenado. 
 
“Busque assessoria de quem entende sobre o assunto. Criadores sérios e competentes podem testar os produtos antes de serem colocados à venda, por exemplo. Além disso, por que não pedir auxílio de veterinários especializados em felinos antes de sugerir um produto novo? Por fim, invistam em artigos específicos para gatos, pois cão é cão e gato é gato. Jamais se esqueçam disso!”, indica Ana Cláudia.