quinta-feira, abril 18, 2024
Administração

Mercado pet food: rumo à saturação

Neste artigo pretendo abordar algumas situações sobre o mercado pet food, importante segmento dos negócios pet, que venho observando e analisando através de conversas com proprietários de pets shops. A partir do que vi e escutei, pude constatar que este mercado está cada dia mais saturado devido à grande oferta de produtos, lojas e indústrias.
Durante muito tempo, pessoas que sempre conviveram com animais domésticos, um cão ou um gato para companhia, tinham o hábito de alimentar seus animais com sobras de comida ou arroz especialmente preparado com carnes e legumes, atitude que nos dias de hoje deveria se tornar rara pela grande oferta de rações. No entanto, pelo baixo custo do arroz para cães em comparação com o da ração industrializada, observo que hoje este hábito está voltando com força. E pensar que foi justamente visando esse tipo de consumidor que se começou a industrialização de alimentos específicos e balanceados para nossos animais, as chamadas rações.
Há algum tempo atrás algumas empresas lideravam neste segmento, crescendo e aumentando cada vez mais suas vendas na elaboração de novos produtos. Por ser promissor e ter atingindo uma fatia onde mais de 40% dos cães e 25% dos gatos são alimentados com rações industrializadas, o mercado pet food gera um faturamento que agrada muitas empresas, o que estimulou o aumento de indústrias voltadas para esse segmento. Para se ter uma ideia, no Brasil, segundo pesquisa da Anfalpet, existem 25 milhões de cães e 11 milhões de gatos. No entanto, embora existam muitos animais de estimação, o que tenho observado é o contínuo aumento de indústrias e produtos e a queda no mercado consumidor, já que as pessoas vivem cada vez mais em apartamentos e as crianças, na era da informática, não são mais tão interessadas em ter animais de estimação.
Um fator que contribuiu, e muito, para essa estagnação do mercado de rações foi o aumento de comércios de produtos para animais, os chamados pet shops, que concorrem deslealmente com os chamados pet garagem, que são lojas pequenas, normalmente administradas pelo próprio dono, que não são legalizadas, não recolhem impostos e não emitem nota fiscal. Normalmente este tipo de comércio funciona nas garagens ou em salões pequenos na própria residência do comerciante, atuam com cadernetas, os consumidores compram e pagam no final do mês, o famoso fiado, coisa que nas grandes lojas não ocorre.
Outra situação encontrada são as quantidades de marcas de produtos no mercado. Se toda loja pudesse comercializar todas as marcas que existem hoje, teríamos pontos de vendas que obrigatoriamente seriam maiores que hipermercados. O espaço físico desses pontos de venda é limitado. Existem os megapets, mas 90% estão limitados no máximo a 100 m², o que torna inviável a comercialização de todas as marcas. Assim, o comerciante acaba por optar pelos produtos onde não há a necessidade de trabalho de marca, nomes já conhecidos e consagrados no segmento. O consumidor entra e pede, afinal, na maioria desses pontos de venda tempo é dinheiro, para que ter o trabalho de conversar com clientes e fazer com que troquem de marca ou produto?
Outro fator que podemos destacar para tal estagnação é que o aumento de indústrias estimulou uma concorrência tão intensa que houve uma divisão de consumidores, não o aumento de consumo, mas uma troca simples de um produto mais caro por um mais em conta ou de uma marca pela outra. Outro detalhe importante, que talvez já tenha sido observado, são os preços das rações. Encontramos marcas que variam de R$ 15 até R$ R$150 sem contar os produtos específicos e de multinacionais que com campanhas de merchandising acabam tomando parte do mercado das indústrias nacionais que, embora acreditem, não podem concorrer de igual pra igual.
Outro fator também muito importante é que os maiores distribuidores desses produtos já atuam com bandeiras de empresas, normalmente multinacionais, que fornecem sustentabilidade devido ao trabalho feito em suas marcas. Empresas mais novas normalmente tentam sem sucesso formar novos distribuidores ou comercializarem seus produtos em outros mercados, mas esbarram na logística, investimento, custos de matérias-primas e estrutura para suportar de 12 a 48 meses de retorno de seus investimentos, o que acaba inviabilizando a comercialização e praticamente limitam-se ao entorno de suas fábricas ou regiões. Isso se dá talvez pela falta de uma pesquisa e análise mais profunda e um planejamento determinando as estratégias que deveriam ser adotadas.
Todos estes fatores fazem com que cada vez mais este e outros segmentos venham a apresentar saturação e dificuldades. Então chegamos à conclusão que, antes que qualquer empresa seja de qualquer segmento lance um produto ou monte sua estratégia para alcançar objetivos, deve levar em conta o que acontece não somente no mercado em que atua, mas também em outros segmentos que possam vir a interferir de maneira contínua na sua evolução.
 
Nelson B. Sousa é Gestor de Negócios e atua no mercado pet há 26 anos como Representante, Vendedor, Gerente de Região e demais atividades.
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